6.6.17

Heavy metal


She Wants Revenge, “These Things”, in https://www.youtube.com/watch?v=g4cVv0kb-Fs    
Procurar o decrépito piano na soleira da árvore sozinha e dedilhar uma música simples. Investir contra os mastins do tempo, mostrando como estão errados sobre a vazão das marés. Arranjar o chão desnivelado com o préstimo das pedras colhidas na serrania flamífera. Cozinhar com as pétalas arrancadas ao desdém da alvorada.
Abrir as janelas de par em par e sentir o cheiro do nevoeiro. Esquematizar pretextos contra os imperativos que arregaçam o olhar desconfiado da vontade. Meter a fundo os braços nas empreitadas transversais, até naquelas que reivindiquem o vencimento da vontade ínclita. Dar conta das contradições, sendo delas tutor em vez de por elas decair na vez de presa. Conversar com o idoso que precisa de meter conversa, nem que sejam banais as palavras terçadas. Correr contra a maré emaciada, levantando as águas madraças com as mãos vigorosas, sendo arquiteto do mar sem recear a dimensão que o faz perder de vista. Embalsamar os medos que se congraçam no penhor do sono macio.
Acender as velas aveludadas e chorar quando o choro faz sua intercedência. Persistir com o martelo hidráulico da vontade, nem que se confunda com teimosia, e arrancar do chão os fantasmas telúricos, beijando os contrafortes do porvir de que se espera sinal. Não virar o rosto à melancolia quando ela rema mais forte, dando-lhe o palco que precisa e depois matando-a, matando-a mesmo que não tenha de ser à nascença. Porfiar o necessário quando as veias urdem um propósito emoldurado na cartografia do céu em espera. Tirar os dados sem sorte e afoguear as mágoas até que sejam apenas indistintas cinzas levadas pelo vento vespertino.
Desamordaçar a voz, nem que seja para proferir o silêncio belo. Na vigília dos tenentes da bondade, a persignação em forma de luto. Tecer louvores justificados aos artesãos das palavras que semeiam quimeras sem par. Destemer as grutas medonhas que oferecem trevas sem equivalência em lugar do confortável passeio na margem do rio, pois a escuridão oferece um regaço à contemplação necessária.
Voltar às teclas do piano e verter em música o tempo em espera, em jeito de oráculo virtuoso. Com o vagar necessário. Sopesando a bondade em altares vítreos, dando o corpo de garantia. Apreciar os dedos que se movem com o sortilégio da luz trespassada, num sucessivo percutir gentil que compõe a pauta benigna.

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