6.1.17

Sabes de que cor é a alegria?


Nine Inch Nails, “And All That Could Have Been (Requiem for a Dream)”, in https://www.youtube.com/watch?v=GkomhX7rWuc
Por junto: as pessoas que importam, os poemas inigualáveis, as paisagens do mundo, o mundo na sua amostra amena. Acordar de manhã. Sentir o frio da manhã, ou a doce penumbra que se evapora com a lentidão da alvorada. Os passos demandados e verificar como distam as coisas na sua diferença quando o passado olha ao espelho retrovisor. A comicidade do mundo. A ironia dos destinos. As palavras-passe para a posteridade, como se houvesse a terna ilusão de que é possível congeminar oráculos nas pontas dos dedos. Às vezes, ler o que foi escrito quando o futuro era uma incógnita. Às vezes, mergulhar na profundidade do ser para descobrir as avenidas que importa sufragar. Ensaiando estrofes sobre a cor da alegria, mesmo que seja preciso inventar as cores, ou inventar palavras para serem seus descritivos. E pegar nos rudimentos da alegria deitando-os nas palmas das mãos, descobrindo a sua ossatura plena. Tendo as mãos por hospedeiras que não se desprendem dos rudimentos da alegria. Tendo consciência que o lado oculto tem existência e pode importunar o jardim onde medra a exultação. Tendo disso consciência, até para emprestar a devida fortuna à alegria que se tem entre mãos. Por saber que a melancolia não pode deixar de ser um estado deletério e, por isso, transitório, com a vantagem de enlevar as propriedades da alegria. Colhendo dos frutos os sumos que traduzem a pureza da alegria. Como se fosse preciso sermos mestres pantagruélicos que cientificamente lidam com os ingredientes que confecionam a alegria, escrevendo em nota de rodapé, quase em forma de segredo, o sortilégio do júbilo que nos é dado a experimentar. Sem temor de mostrar os rostos expansivos, enfeitados por sorrisos a preceito, demonstrativos da alegria docemente invasora. E sem ter a necessidade de usar a alegria como agente contagiante, pois ela não é transferível por ações interpessoais. A alegria tem uma cor singular. Expoente máximo da peregrinação interior que compete a cada pessoa. A alegria não se mostra. Sente-se. Intimamente. Essa é a sua cor singular.

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