9.9.16

Às vezes, carnaval

The Chemical Brothers ft. Beck, “Wide Open”, in https://www.youtube.com/watch?v=BC2dRkm8ATU
Meter uma máscara. Não apenas no rosto, sobre o corpo inteiro. Às vezes, dormir com ela, tão troantes as circunstâncias que obrigam a vestir um carnaval que se mete por dentro do corpo, por dias a fio. Por dentro de uma máscara, por imperativo de achar o palco onde se coabita com uma teatralidade necessária. Onde temos de ser atores de uma estirpe diferente: as conjunturas são porosas, convocam hábitos circenses (a única maneira de tolerar os impropérios que, não fossem esses hábitos, seriam intoleráveis impropérios).
Fazemos de conta. Como se faz de conta nos carnavais festivos. Sem haver qualquer coisa a festejar. Tudo o seu contrário: um desfile de coisas grotescas contra as quais não podemos protestar, atento o demais. O povo convencionou falar de batráquios deglutidos, sem um ai. Porque não somos ilhas, em chegando o momento de habitar o território de que não somos os imperadores de vontade, mas apenas uma das várias peças da engrenagem – e uma peça a que não é tributada relevância. Porque não somos ilhas e não podemos – ou não devemos, o que, para o caso, vai desaguar no mesmo resultado – ferir o manto de autoridade investida.
Encontra-se uma saída: o dito palco circense, onde as coisas e as palavras são pastoreadas com a leveza dos circos. Para ajudar na função, a máscara que cobre o corpo inteiro. Pois com a máscara corporizada, facilita-se a transfiguração exigível para ser parte integrante do palco circense. Na posse da máscara, o território que se põe a jeito é carnavalesco. Tudo se joga num tabuleiro onde, a páginas tantas, deixa de ser nítida a fronteira entre o faz de conta e o resto. Como só contasse o faz de conta.
É o custo a pagar pela trivialidade carnavalesca. Talvez um alçapão almofadado, onde o corpo não fica ferido quando lá aterra em queda. Ao menos, por dentro de uma máscara, os ultrajes parecem disfarçados.

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