11.8.16

Rastilho

Breeders, “We’re Gonna Rise”, in https://www.youtube.com/watch?v=qrKhBeQGobs
Das doze estrelas que desembaciavam o céu, três ficaram órfãs de luminosidade. Eram estrelas apagadas. E, contudo, continuavam vivas, marcavam o céu astral com a sua presença, ainda que fossem parêntesis em forma de sombras tomando conta de um lugar no mapa. As demais continuavam a irradiar a luz que se lhes conhecia. Serviam de salvo conduto para os sonhos mais díspares que, desde a Terra, fossem afiançados por quem deitava os olhos ao céu e se encantava com as estrelas viçosas.
Destas estrelas se dizia que eram tão luminescentes que até em dia de nuvens densas elas conseguiam espreitar, fazendo valer a perseverança. Nos dias de seguida invernia, quando as pessoas com saudade de saudar o céu na sua forma original não conseguiam reprimir lágrimas por ausência do céu que titulavam, o discreto fogacho que as estrelas vertiam do céu era recompensa não esperada. E as pessoas lavavam a saudade num claro e fino feixe de luz admitido pela generosidade das estrelas imorredoiras.
Naquele dia, os mais atentos notaram a ausência de três das estrelas habituais. Inspeção mais cuidada levou-os a concluir que as estrelas não estavam cadáveres, apenas tinham a luz extinta. Queriam acreditar que era transitório. Que as estrelas caíram num súbito cansaço e precisaram de repousar na penumbra e depressa viriam ocupar o seu lugar, com a luminosidade intensa que lhes era creditada. Queriam acreditar, na pior das hipóteses, que aquelas estrelas se tivessem ausentado em férias, que ninguém aguenta o desembaraço da função por dias e dias fora, sem parar. Não queriam acreditar que as estrelas estivessem doentes – partindo do princípio, como partiam, que as estrelas, cujo lugar ainda intuíam no mapa correspondente, não tinham perecido (hipótese que, simplesmente, desconsideravam).
Alguns dias passaram e nem sinal de vida das estrelas de fogo agora fátuo. Foi tempo e mais tempo, e só com o tempo entretanto corrido alguns começaram a esboçar temor pela pior das possibilidades. Em derradeiro apelo às forças interiores que arregimentavam um sentido positivo das coisas, quiseram acreditar que as estrelas sobreviventes seriam o rastilho que devolveria imponência às estrelas agora adormecidas. E parafraseavam, a rematar o raciocínio (ou, melhor se diria, a crendice), um lugar-comum: a fé move montanhas. Eles acreditavam que também ressuscitava estrelas fora do combate.

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