18.8.16

A quiet life (Lovers & Lollypops)


Teho Teardo & Blixa Bargeld, “A Quiet Life” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=TXUWjiY8fXs
Dos lençóis que são residência apetecível. Dos olhos comprometidos com o amor sem rival. Das peças de teatro onde se reordena o pensamento. Das paisagens visitadas em voragem de conhecimento – e das cidades-metrópole, onde as línguas estrangeiras emprestam aroma à chuva e as culturas medram em sua diversidade. Da música, simplesmente. Dos sonos acomodados em palcos ecléticos, sossegados. Das peias que deixam de o ser, determinadas pela vontade de que somos juízes máximos (porque juízes únicos). Das rodas dentadas que atam os tempos diferentes, esquecendo o retrovisor (menos para as lições de antanho que impeçam a recorrência de erros gratuitos). Das amesendações fruídas em notáveis experiências de gastronomia. Do vinho que inebria. Dos sentimentos emparelhados numa sintonia de silêncios. Das palavras singelas que valem por mil idiomas. Do tempo passado sem pressa. Da avidez do conhecimento, em plena função da cultura-húmus. Das caminhadas sibilinas onde bebemos o mar diante dos olhos. Das promessas que não precisamos de ajuramentar. Das peles adjuntas em coreografias que segredamos. Dos gostos desalinhados e da retirada de importância ao mundo exterior. Da entronização de uma janela como testemunho de um lugar idílico, onde o tempo se suspende entre os dedos quentes e sedentos uns dos outros. Da cumplicidade que adestra um amor. Da cumplicidade que adestra, ato contínuo, uma amizade singular. Do ombro, e da sua largueza, como cais de abrigo quando dele há carência. Da crítica quando ela é precisa como chamamento à dureza do chão que se pisa. Dos planos que se fazem, nem que não sejam cumpridos na posteridade, só pelo prazer dos planos deitados no estirador das intenções que emergem em consórcio. Da maravilhosa sede de vida, com medo do envelhecimento, ou sem dele ter medo. Das cortinas que se levantam entre duas interjeições metidas por sobressaltos que também são ingredientes. Da justeza de tudo o que acharmos justo. Da imensidão do lugar que chamamos às nossas mãos. Da intemporalidade de que somos tutores. Do hoje que deixamos ser tradição de um tempo que queremos. Das rimas que cerzimos em abastado estado de enamoramento. Da vida que sufraga a quietude, como se não fosse mister do tempo despachar-se sob a batuta dos ponteiros de um relógio atual. De uma vida serena. Serenada pela presença serena de quem se ama.

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