27.7.16

Direito de resposta

Nick Cave, Kylie Minogue, Shane MacGowan, Blixa Bargeld and Mick Harvey, “Death Is Not the End”, in https://www.youtube.com/watch?v=Ao0lyPjYQw0
Não vai sem resposta: uma estocada afivelada no dorso não pode merecer silêncio. Se o dorso fica a sangrar e o sono se encolhe com a honra enquistada, o silêncio não pode medrar na inconsequência da infâmia. A infâmia não é inconsequente; vem atrelada a corolários. O imperativo do direito de resposta é o primeiro, e mais fervente, deles.
Às vezes, é só pela usura da polémica. Um pingue-pongue de argumentos esgrimidos. Recompensa, se houver respeito mútuo e se for prestado tributo à livre e tolerante troca de argumentos, sem que um dos antagonistas esteja movido pela obrigação de levar de vencida a polémica. A discussão fermentada pelo estímulo intelectual da discussão. É quando o direito de resposta se repete pelo tempo fora, num rol de argumentos e contraposições e novos argumentos e, se preciso for, desvios laterais à conversa para a enriquecer.
Às vezes, o direito de resposta é uma defesa de honra. As circunstâncias opõem-se ao direito de resposta que se exige na intensidade de uma improfícua discussão: há um ultraje que a pessoal sensibilidade não admite deixar sem contestação, ou a invocação do nome pessoal sem a coragem de escrever o nome com as letras todas. Não é linear o direito de resposta aos mesquinhos que fazem juras a pessoais impaciências. Depende dos humores atados a um determinado tempo. Às vezes, o melhor é deixar os injuriadores a falarem sozinhos – é a resposta que mais os agasta. Outras vezes, quando a bonomia está em baixa e o mau humor pede meças a um litígio aceso, o direito de resposta não pode ficar sitiado na indiferença.
O mal é que, às vezes, o pleito traz a palco atores de baixa igualha, covardes que disparam a artilharia nas costas do oponente, canhestros motivados por recalcamentos pessoais exteriorizados para outro na impossibilidade de conviverem com esses recalcamentos. Num primeiro instante, apetece dar troco aos putrefactos que jogam no tabuleiro da covardia, da manipulação, da baixeza de métodos. Quando, a certa altura, a troca de argumentos se mete na penumbra dos primatas, o direito de resposta tem de ser sacrificado.
Melhor seja que impere o silêncio. A páginas tantas, já não passa de dar pérolas a porcos balofos. A estrumeira fica para os porcos. E as pérolas, guardadas sejam para quem delas seja merecedor.

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