15.6.16

Existencialismo

Sigur Rós, “Ágætis Byrjun”, in https://www.youtube.com/watch?v=Hrq7ffdV1ro    
I
Os porquês da existência: se somos ser algum, é-nos titulada uma razão de ser. Porque somos? Porque alguém nos concebeu – a resposta simplista; porque uma conjugação de fenómenos cósmicos congeminou a nossa existência serventuária dos propósitos do mundo – a resposta que anula a identidade do ser; porque servimos uma finalidade, o que conduz à pergunta seguinte.
II
Para quê? Qual é a finalidade da existência? Abre-se uma constelação de hipóteses: existimos para sermos provedores da felicidade, da própria e da que pertence a outros – hipótese heurística; existimos para dar existência outra (considerando a existência outra que possa estar unicamente dependente do exercício da nossa vontade) – hipótese altruísta (ou não, se a abordagem da existência estiver contaminada por nuvens negras); existimos para o prazer – hipótese hedonista; existimos para sentir sofrimento, nem que seja para conferir mérito ao prazer – respetivamente, hipóteses masoquista e utilitarista; existimos para o conhecimento e para as artes – hipótese científica; existimos para confirmar os preceitos de um deus – hipótese metafísica; existimos, mas não damos conta da finalidade do existir, limitamo-nos a deixar que a existência seja conduzida pela congeminação das forças exteriores a que, por comodidade, denominamos “devir” – hipótese anuladora da existência.
III
A pergunta das perguntas: existo? Os lugares comuns não entendem a demanda: se somos pensamento, a ponto de formular interrogações sobre a ontologia da existência própria (e, por maioria de razão, da alheia), é porque preexiste a existência; sem ela não pode haver pensamento formulado. Existimos, por conseguinte. Mas o pensamento inconformado pode desafiar as convenções. Pode perguntar se a existência não é uma ilusão criada por dentro de um mundo de sonhos. Se não somos apenas o produto onírico de outrem, e apenas vivemos enquanto criação de um sonho vivido por outrem. Numa transfiguração do tempo, com a sua própria existência prolongada para fazer demorar o tempo do sonho em correspondência com o tempo que corresponde à existência do ator que vive por dentro do sonho. Será existência, dirão os puristas. Os mais céticos, entre os que consideram a hipótese de uma existência por interposta pessoa, dirão que é existência parcial: falta-lhe a autonomia da vontade para ser existência potencial.
IV
Por este critério – existência dependente do exercício autónomo da vontade – não seremos todos existência amputada?

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