10.11.15

Tumultos

Darkside, “Guns of Brixton” (Submachine Darkside Mix), in https://www.youtube.com/watch?v=x7K7hUakgZ8
Dos dias pela frente.
Gente desconvencida. Gente desconfiada. Com direito ao mesmo protesto dos que dantes andavam, inflamados e cheios de razão, de protesto em protesto, enchendo as ruas e avenidas de protestos e razão cheia de soberba. Agora será a vez dos que protestavam contra os protestos dos que, desta vez, vão dar ordem de silêncio às habituais corporações treinadas para espalhar o caos. O direito é o mesmo. A soberba da razão, e os contrafortes da desrazão dos sentados no púlpito do poder, não muda. Porque parece que as pessoas não aprendem. Não aprendem que a razão não se objetiva. Não aprendem que um bom pleito argumentativo não pode ter a pretensão de dobrar o braço do adversário. Esta lógica sem lógica é cansativa.
Dizem que agora tudo vai ser diferente. Os novos mandantes vão ser justos e bondosos (em contraposição com os ímpios que estão de saída). Dizem que os que habitam nos quadrantes que tratam da justiça, da boa política, os sucedâneos do Robin dos Bosques em versão contemporânea, dizem que se puseram de acordo. Enfim. Os que defendem esta ideia, no pleno uso dos seus direitos (o que deve ser enfatizado à exaustão), não podem travar o contraditório de quem não se revê nesse manual estilístico. Estes têm o direito – dir-se-ia, o dever – de protestar se for caso disso, e nas ruas, mesmo que não seja sua linhagem.
Dizem, ainda, que estes são tempos de crispação. Se há palavras madrastas no vocabulário, “crispação” preenche os requisitos. Porque ao poder ergue-se quem não saiu vencedor do sufrágio, o que é novidade a que a cultura nativa não estava habituada. Porque os argumentos se exacerbam, de um lado e do outro: os promitentes do poder no uso da pesporrência de quem já se vê instalado no púlpito, desapossando os que estavam alojados; e estes e seus afilhados em desespero de causa, sentindo o tapete do poder a dissolver-se debaixo dos pés, usando uma argumentação tacanha.
Não sei se isto é “crispação”. Continuo a achar uso mais belo para uma derivação do substantivo, na sua forma de adjetivo, quando os poetas somam ao mar o seu estado crispado. Já está “crispação” dos dias pela frente, temo que seja fermento de tumultos que tragam uma violência que não é património genético de gente habitualmente mansa.
Definitivamente, a política é deprimente.

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