24.11.15

Ruas vazias (ou a vitória do terror)

In http://imagens7.publico.pt/imagens.aspx/1007327?tp=UH&db=IMAGENS&w=749
Uma fotografia no jornal: uma rua de Bruxelas sem gente, quando se supõe que devia estar apinhada. Debaixo da fotografia, uma legenda em forma de interrogação: e se no futuro for assim? Tomo a interrogação como mote. E se no futuro, por causa da guerra surda e covarde dos que semeiam terror, formos cativos do medo e o medo for o motivo para não sairmos de casa? A resposta que parece mais óbvia é que, a ser assim, os paladinos do terror vão triunfar. Porque serão capazes de destruir comportamentos habituais.
A interrogação leva a recordar uma frase contundente, dita a uma só voz pelos líderes dos países que encabeçam o combate aos terroristas: eles exortam à coragem, pedem para que não capitulemos perante o medo e não mudemos hábitos. Essa será a prova que não ficamos sitiados pela covardia dos que matam por matar, por nos chamarem infiéis, ou por outro motivo qualquer.
São palavras belas, palavras que transpiram uma coragem que os terroristas só têm quando se abraçam a um colete de explosivos ou quando pegam em metralhadoras e disparam ao acaso sobre gente desarmada. O que falta, é convencerem-nos que a segurança existe e que os serviços secretos, por fim, têm serventia: vigiar de perto os passos dos que estão inventariados como suspeitos de semear o terror, para travarem a sua função. Até lá, as palavras belas dos políticos enfeitam discursos que se esgotam no efeito retórico. Não é confortável saber que saímos à rua e podemos não voltar a ver os entes queridos, nem voltar a casa. Não é confortável passar o tempo em permanente desconfiança, com o temor de uma rajada de metralhadora a silvar ou de uma explosão a troar debaixo dos pés.
Não estou a insinuar que devemos ser timoratos. Digo, apenas, que o pragmatismo e o instinto de sobrevivência pesam mais do que atos de heroísmo em nome da “civilização” que os bárbaros estão a conseguir destruir, aos poucos. Não temos a mesma demência genética dos kamikazes que matam em nome de uma religião e que aceitam a imolação, se preciso for. Já foi tempo em que éramos carne para canhão de exércitos e de causas que nem tínhamos o direito de equacionar se eram justas.
As ruas de Bruxelas estavam vazias. As pessoas são inteligentes, ou pelo menos racionais, e dão valor à vida. O que as distingue dos bárbaros que só sabem mostrar desprezo pela vida humana. Se as ruas vazias das cidades são um oráculo do futuro (na hipótese de não ser possível derrotar os ninhos deste terrorismo fundamentalista), assim seja. Antes isso do que começar a cercear liberdades a eito com o pretexto da segurança. Essa é que seria a grande capitulação de valores a que os fanáticos do terror nos conseguiriam conduzir. E, aí sim, eles teriam começado a triunfar.

Sem comentários: