9.11.15

O que diz uma indumentária

S.C.U.M., “Whitechapel”, in https://www.youtube.com/watch?v=IoYszf-37Tk
Bem sei que há gente que atribui significados a eito a tudo o que julguem ser passível de uma hermenêutica qualquer. Bem sei que os rituais da indumentária são pasto abundante para uma certa sociologia dos costumes. Dessa sociologia extraem-se condutas mediante o vestuário envergado por alguém. Rótulos são cozidos às pessoas só por andarem vestidas de uma certa forma. É, porventura, a mania de adivinhar o que vai na alma dos outros (como se as pessoais aflições não chegassem). E a mania, também, de arrumar as pessoas em gavetas herméticas, após equações muito matemáticas.
Agora diz-se que um engravatado perdeu pergaminhos. Por causa da moda do primeiro-ministro da Grécia, que ousou comparecer nas reuniões magnas sem o estrovo de uma gravata. Começou a fazer moda, essa moda. Começou a ser menos obrigatório os senhores importantes porem uma gravata ao pescoço. Os entusiasmados que convocam a bem-vinda rebeldia de quem rompe com costumes enraizados, não deram conta que estavam a dar caução a uma moda. Alternativa, sem dúvida; mas, ainda assim, moda. Ora, mandam as convenções (que detestamos) que assim que uma moda alcança o púlpito a ponto de moda ser considerada, nem que venha em contramão contra a moda instituída, ganha foros de coisa institucionalizada. Logo, perde as credenciais de um ato rebelde. Que haja muita gente que arrumou as gravatas num baú, é apenas sinal de que alinharam com essa moda. Daí não se podem retirar outras conclusões, nem sequer pespegar rótulos mesquinhos.
Por exemplo: em tempos tive o ritual (ou a superstição, já não me lembro) de meter gravata quando ia dar aulas. Como perdi esse ritual apenas porque me apeteceu, e isso aconteceu antes do Tsipras ser famoso, podia-me dar para garantir que influenciei a moda do Tsipras. Por outro lado, não usar gravatas não faz de mim um seguidor destas esquerdas que, surpreendentemente (ou talvez nem tanto), se abraçam a tantos preconceitos – e ainda por cima vertidos numa coisa anódina como a indumentária.
Somos o que somos. Não somos o que vestimos. Nem devemos ser lidos aos olhos dos outros pela indumentária que envergamos numa circunstância. Olhar de outro modo, é apoucar a existência humana e sobrevalorizar a roupa que nos tapa a nudez. Tão simples quanto isto. Se não, como justificar que o líder dos sindicalistas comunistas ponha, de vez em quando, gravata?

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