14.10.15

Teoria do suicídio

Brendan Perry, “Inferno”, in https://www.youtube.com/watch?v=Fm8iOlqoowA
Uma encruzilhada. Não há instrumentos de navegação. Apenas o vasto deserto. E a ambição sem freios, que leva às resoluções que não são sopesadas.  Olhe para onde olhar, a paisagem é igual. Apesar de as sombras que mascaram as ilusões deitarem a perceber um possível oásis para um dos lados. A falta de siso ajuda a compor a imagem pálida que vem de um lado do cruzamento, em contraste com a centelha que alguns acenam do outro lado.
Num momento de sobredimensionamento do ser, atribui-se uma importância que só tem par nas divindades: é o pêndulo de tudo, o juiz que arbitra a vontade dos outros, de todos os outros que lhe são satélites. Num acesso de irreprimível grandeza, julga-se a matéria centrípeta. Não chega a perceber que os pés depostos junto à encruzilhada simbolizam um precipício, sem dar conta que o precipício se esconde atrás das cortinas de fumo que emprestam encanto ao cenário de que se julga tutor. Não percebe a dimensão do chão que pisa. Não percebe que os promitentes que acenam com prebendas mil só se querem aproveitar da centralidade que julga ter em suas mãos. Mas não é o ator principal. Não passa de um instrumento a ser jogado nas mãos dos outros, que têm mais destreza e não estão embaciados pela penumbra dos descaminhos de outrora.
O pobre ser não sente que está a ser exaurido. Por dentro de si e pelas Cinderellas apressadas que o estão a cortejar. O pobre ser está a um passo estreito do suicídio e, mau grado, continua convencido do estrelato de que se ufana. Até pode ostentar a figura de ator principal; atrás da penumbra onde tudo se joga, sem os néones que dissolvem a lucidez, o pobre ser não intui os preparos do suicídio em que se meteu. Qualquer que seja a consorte escolhida, vai-lhe acontecer como àquelas espécies de aracnídeos em que o macho é devorado pela fêmea logo a seguir a terem terminado a cópula.
(A semelhança com a realidade – a prosápia dos socialistas que julgam ser os salvadores da coisa desde o papel de perdedores – não é coincidência.)

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