4.5.15

Mandamentos de um amor

Dead Combo, “Povo que cais descalço”, in https://www.youtube.com/watch?v=j-isYBLIC_0
1. Que a palavra amor não seja recusa. Protestam viris personagens e fêmeas destravadas (e uns quantos entrevados do desamor) que o amor é lamechas. Não interessam os olhos outros se não aqueles que são intérpretes de um amor. Os derrames da semântica pertencem aos olhos desfocados dos demais.
2. Amor: simples palavra que encerra em quatro letras um património que não cabe no mundo. Desenganem-se os que enfeitam um amor com os paramentos da complexidade. Cometem a aleivosia da adulteração do amor.
3. O amor é proeza que se reinventa na durabilidade do tempo. Não é um ato acabado. Os que julgam que atingiram um apogeu do amor encontraram a chave para a sua finitude. O amor é sobre desafios incessantes, palavras que se renovam, olhares que se trocam como se houvesse vez primeira para serem trocados, cumplicidades que se entretecem na imensidão de um lugar exíguo onde se aloja o amor.
4. O amor acolhe atos nunca contrafeitos, corpos nus, intenções que quadram no feixe de pensamentos simultâneos que atravessam a distância que for preciso.
5. Amar é uma exigência. Sumptuosa e ao mesmo tempo frugal, pela noite ou pelo dia, com palavras e através de silêncios (que medram a intensidade de um afeto), de olhos abertos ao vento ou de olhos fechados contra os sobressaltos da chuva enfurecida e, ainda assim, conseguir ver o rosto amado no avesso das pálpebras.
6. Amar é como salgar o tempo vindouro e torná-lo perene. Discordando dos manuais de estilo que ensinam a finitude do tempo: um amor não soçobra com a finitude dos corpos.
7. Um amor é tolerância. Para com o outro e para o tutor da tolerância.
8.  Um amor é uma fórmula matemática que joga na equação a harmonia de duas almas que encontram palco próprio e mundo único num castelo em segredo de onde são curadores dos mares inteiros.
9. Um amor é contar as madrugadas todas, pelos dedos das mãos, até que nas paredes do quarto já não haja mais alvura entretanto tomada pelo tempo emoldurado nas paredes.
10. Um amor é sobre a infinitude, sobre os olhares cúmplices, as mãos entrelaçadas, os beijos demorados, os corpos nus, o apadrinhamento dos mares, as palavras imortais. E é sobre tudo o que os amantes quiseram que seja.

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