7.4.15

As leis de bronze

Wild Beasts, “Wunderlust”, in https://www.youtube.com/watch?v=9IIbbFIQTKI
Os antigos, que ensinam ser um posto a antiguidade, cinzelam as leis de bronze. As mesmas que herdaram dos antepassados e que reproduzem sem espírito crítico. Dá a impressão que os tempos cristalizaram numa moldura encimada por uma espessa camada de poeira. E tudo seria igual, como se fosse desmentido o viveiro de novidades que muda os tempos, que ora os faz melhores, ora os piora (e isto sempre com a perspicaz lente que varia de observador para observador).
As leis de bronze são a frontaria da alergia à mudança. Dogmas. Não admitem questionamentos. Apostata-se quem desafia as baias do conhecido, quem se não apraz com a matéria cimentada pelas leis de bronze e, em desarmonia com a harmonia, dá alvíssaras a outros hereges que bolçam contra a inércia das coisas. Pois as leis de bronze seguem hábitos estabelecidos, acriticamente. Contentam-se com o menos, com a torpeza de fazer de conta que as coisas não mudam só para não terem de lidar com as dores interiores que vêm com o desarranjo das convenções. Uma acomodação que menoscaba.
As leis de bronze são acerca do apoucamento da pessoa. Da sua colonização pelo pensamento adquirido, insidiosamente convidando os contumazes a deixarem as dúvidas para matérias que não sejam rombos nos lídimos estertores que vêm agrilhoados às leis de bronze. Julgam, os seus continuadores, que as leis de bronze se autojustificam. Haverá poucos atentados mais ultrajantes à autonomia das pessoas. Haverá dificuldade em encontrar outra imagem que seja tão fielmente reprodutora da castração de cada ser. Quando nos dizem para não incomodarmos as convenções, que arriscamos a pôr de sobressalto as tranquilas almas habituadas ao que vem de trás, praticam a lógica do “não, porque não”. Não chega.
É quando mais apetece desafiar as leis de bronze, pegar num cinzel e esfarelá-las, camada após camada, até chegar ao seu âmago. Despir as leis de bronze da espuma frívola, sem consubstanciação, e deixá-las nuas ao escrutínio de cada um. Para, ao menos, admitir que os seus zeladores mantenham o papel em que foram adestrados e admitir que haja quem se não reveja nessas leis de bronze e hipoteque a sua validade (sem ser logo apostatado).

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