4.3.15

Sintomatologia dos tempos que mudam

Jack White, “Lazaretto”, in https://www.youtube.com/watch?v=qI-95cTMeLM
O vento que muda de cambiante com o correr dos ponteiros do relógio é das proezas mais encantadoras do tempo em sua muda. As coisas ganham outra espessura, são explicadas através de outra lente, reinventam-se com o conhecimento que se apura, falam por palavras diferentes mercê de uma criativa linhagem. É por coisas destas que não entendo os conservadorismos, de diversa jaez, que nos enxameiam os olhos. Algumas explicações aos petizes são devidas a juzante.
Ato primeiro: querem ser patriotas, petizes? Exaltar a superioridade das coisas nacionais, desprezar o que vem de fora? Saibam, petizes, que na modernidade que manda na batuta do tempo têm de se alistar na esquerda radical. Os da direita, serventuários dos interesses capitalistas, vendem a alma ao estrangeiro se supuserem que vão embolsar gratificações materiais. A direita é, nos dias que correm, traidora das nações. Aprendam com o frade Anacleto: o capital sem pátria é nefasto para os novos oprimidos. Ergam-se, ó petizes, de braço dado com a esquerda radical (ou o que sobrar dela antes de se esfrangalhar). Sejam patriotas.
Ato segundo: as alianças que num outrora ainda recente se julgavam impossíveis. Inimigos que passam a concubinato discreto. Há dessas alianças improváveis a rodos. Nas artes são menos, porventura porque os artistas sentem dores na coluna vertebral. Mas há-as na política, na economia, no desporto, nas relações pessoais, no trabalho. Mudar o diapasão há de ser tido por um arejamento do espírito. E, não despiciendo, se as alianças onde dantes havia inimizades servirem para as aplacar (às inimizades), contribuem para a civilização.
Ato terceiro: as cambalhotas pessoais. Aquilo que juramos jamais fazer ou dizer ou escrever ou comer ou ver ou pensar. Aquilo que era um majestático desconhecimento e passou a ver-se visitado pelo protagonismo. O que era tabu e o julgamento resgatou ao sargaço dos preconceitos.
Ato quarto: a mudança. Toda a mudança. Quando apetecer. Sem sequer tentar perceber porquê. Contra o atavismo do tempo se ele se faz imóvel. Descartando todos os trunfos que, sub-repticiamente, insinuem um conservadorismo qualquer.

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