16.3.15

Erro sistemático?

Interpol, “Everything is Wrong”, in https://www.youtube.com/watch?v=Aw90St_8ek0
Há alturas em que parece que tudo enferma de erro. De um erro sistemático, um vírus que contamina tudo o que se mexe. Não é só o resto que padece do erro; o centro de nós mortifica-se por tamanha desdita, parecendo que as resoluções tomadas se entregam nos braços larvares das más consequências. Tudo parece quadrar com o erro. E mesmo quando se julga, após tanta insistência no erro, que uma resolução está (desta vez) talhada para a resplandecência, vem-se a saber que a aposta devia ter sido diferente. A certa altura, a hibernação parece compensar. Ao menos não há decisões e, em não as havendo, desaparece a probabilidade de erro.
Questão de ordem: o diagnóstico do erro sistemático é fidedigno? Pode haver um vício de julgamento. Ou pode o estalão da exigência ser tão alto que a demanda pela perfeição impede, à partida, que as resoluções não esbarrem no erro. O erro passa a ser sistemático. Ou, pelo menos, a perceção de que o erro é sistemático ganha raízes.
Em vez da capitulação, que tanto pode terminar na hibernação como na habituação às decisões fadadas para o erro, o imperativo é o questionamento de tudo. A começar nos padrões rotineiros que medem o bem ou o mal que vêm com as decisões que se toma. É como se fosse necessário mudar de lentes com regularidade. Para a análise se depurar os viés enquistados que, de tanta habituação, podem embaciar a forma como se tira as medidas aos atos.
O mundo à volta não é o pior dos mundos possíveis, por mais que o ceticismo tenha feito tirocínio dentro de nós. Não é caso para um céu perenemente plúmbeo, ou um tempo sem resgate da chuva enfadonha, ou motejos inconsequentes que frustram o humor genuíno, nem para a essência das pessoas ser naturalmente detestável. Há episódios destes, personagens desta gesta; mas não se tirem conclusões apressadas. Se houver capacidade (e vontade) para chegar a este método, a primeira conclusão é a da impossibilidade do erro sistemático.

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