5.2.15

Rap da Reboleira

Stereossauro (Fiat. Skillaz), “Sheik”, in https://www.youtube.com/watch?v=oeS_cZhobE8
Acordo já os outros almoçaram, o sono pegou de estaca já era tarde, não deixo nada pela metade. Há cenas de pancada, rave nos armazéns abandonados, pastilhas que dão para aguentar quarenta e oito horas de seguida.
O skate é companheiro. Arranjo asfalto para as rodas gastas. Quando é longe meto-me no comboio à pala.
Sou mestre em cravar borlas. No tabaco, na roupa só um pouco gasta que os queques de Cascais vendem para comprarem o pó ou para contratarem meretrizes de luxo, nas bebidas da discoteca, no guito emprestado quando uma donzela voluptuosa cai no regaço e a tenho de levar a jantar. E a pedir emprestado a outro para pagar o suprimento que vem trás, e assim sucessivamente.
Sou perito em arrastar a asa. Fui fazendo a minha fama. As donzelas ficam febris quando meto conversa. Prometo afagos em troca de desejo. Não me importo com o resto. Os lençóis desarranjados são testemunha dos pergaminhos.
Não renego ser macho alfa. Tenho seguidores. Ouvem falar das proezas minhas e querem ser émulos para a contabilidade das conquistas. Não lhes ensino nada. Que aprendam a seu custo. Também não fui ensinado (a não ser por uns filmes sugestivos que os mais velhos traziam do videoclube).
À noite, nunca sei em que cama vou descansar. Na minha peugada deixo uns vestígios de charme que as donzelas carentes e outras explosivas gostam de tomar entre mãos. Deve ser da frontalidade das palavras, das palavras cruas que sirvo em bandeja fria.
O arrasto marialva não hipoteca as responsabilidades do gangue. Espalhamos terror – acusam os que não percebem da poda. Nós dizemos que espalhamos respeito. Somos como Robin dos Bosques, numa variante moderna. Só nos apoderamos de propriedade alheia quando sabemos que é de gente abastada. Redistribuímos. Somos socialistas. Connosco mesmos. A nós a partilha do pecúlio.
E se à noite um rival se encosta a mim no balcão das bebidas, não pergunto se quer sentir o calor do meu corpo; colo-lhe na testa o calor do meu punho. Os irmãos do gangue têm a discoteca controlada.
Sou rei. Rei de um reinado feito por irmãos de armas. Sou o maior das redondezas. E as redondezas já são miúdas para a minha dimensão.

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