19.2.15

Estatura maior

Sigur Rós,  “Fjögur Píanó”, in https://www.youtube.com/watch?v=8i9vEBWnu9I
Medem-se aos palmos, os homens?
Desembainhem-se os momentos de bravura interior. Quando, num exercício de onde resplandece a grandeza que nidifica por dentro, sem ser um narcísico exercício, se denota o julgamento da singularidade do eu. Não há iguais. E mais: não há quem seja maior, por maior estatura que seja a sua, por mais linhagem que o esteja a ungir.
Não é um ensimesmar. Não é desaprovar os outros que se considerem maiores que os demais. A certa altura, o exterior do eu é irrelevante. É quando uma soberba indisfarçável (mas perdoável) afiança que se é maior que a própria estatura. Uma grandeza que extravasa o corpo e o pensamento. Às duas por três, até o mundo inteiro. É um ato volitivo. A perseverança que asila as inquietações, que as aplaca num leito que serve de afago. A estatura maior levanta-se sobre a terra. Recolhe, nas mãos gigantescas, o odor plural que vem das terras diferentes. Acaricia os mares, domando-os quando fervem num estrépito tempestuoso. Nas mãos generosas, processa a suavidade das flores campestres que traz das montanhas distantes. Espreita o seu olhar diligente sobre as páginas que retratam palavras quiméricas. Rivaliza com os coreógrafos ao ensaiar uma dança espontânea, sem passos estudados, mas ainda assim sublimando uma leveza que adestra o estado de espírito.
Não há consumições que possam descompor uma harmonia. Não há céus, por mais plúmbeos que estejam, a levitar a melancolia. Não há apoucamento de ninguém, pois a alta estatura que se eleva a um promontório semeia a lucidez da análise: ele há tanta gente enamorada pela mesquinhez, tanta gente meã que não aspira a outra condição, tanta gente que não conta para as contas. Pode soar a soez arrogância. Que mal vem ao mundo se concordarmos que não é aos palmos que se medem os homens, e que um palmo de estatura se pode transfigurar numa personagem colossal e abarcar o mundo inteiro que não chega para o seu tamanho?

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