21.8.14

Há que contar com os mortos


In http://joaquimnery.files.wordpress.com/2013/05/dsc_0329.jpg
Desenganem-se aqueles céticos (acuso a recepção) que se entristecem com a hipocrisia convencionada de glorificar os mortos, ou melhor, os que acabam de morrer. Dá a impressão que os recém fenecidos não têm defeitos, tanta hagiografia ensaboada quando alguém (em sendo pública figura) toca de finados. Não é só assim. Os mortos também contam quando o féretro perde prazo de validade e o esquecimento toma conta da memória pública que tem tão pouca memória (ou muita hipocrisia). Já se sabia que assim era nas eleições. Dizem que há muita gente morta que ainda não foi subtraída aos cadernos eleitorais. À custa dos mortos que ainda figuram como eleitores, também se certifica que os números da abstenção são exagerados. É um golpe de misericórdia no regime político dado pelos que já partiram do mundo dos vivos. Já que não podem votar, mas tudo se passa como se pudessem erguer do túmulo no dia das eleições em direção da mesa de voto, vingam-se enquanto abstencionistas (que não deviam ser). Eles não têm culpa. Que também não morre solteira: atire-se o opróbrio para cima dos funcionários que tratam do recenseamento. Por portas travessas, eles prestam uma homenagem paradoxal aos mortos que contam como abstenção. Há dias, notícia de outro exemplo de como os mortos são gente importante. Em Braga, por causa da peleja eleitoral dos socialistas, acharam-se mortos entre os pagantes de quotas em atraso. Não vem grande mal ao mundo. Assim como assim, os mortos não têm conta bancária e, que se saiba, ninguém foi testemunha de visitas de tesoureiros socialistas às campas onde repousam os mortos outrora filiados para cobrar as quotas em atraso. Um socialista de gema leva os pergaminhos para o túmulo. Assim sendo, deve continuar a pagar as contribuições para a agremiação. E repito: não vem grande mal ao mundo desta supina batota. Seja como for, é um partido que já toma como certo o abocanhar do poder depois das próximas eleições. Que ninguém estranhe que o candidato a primeiro-ministro da seita inclua medidas dirigidas aos mortos nas promessas eleitorais.

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