25.7.14

Irmãs siamesas

The Cure, "Siamese Twins", in http://www.youtube.com/watch?v=NFMWZ8g8ueM
Émulos. Com sintonia de tudo. Das dores, das alegrias, das consumições, dos apartados da vida, das recompensas que perduram na memória, dos sabores. Um olhar que se trocasse valia mais que mil palavras. Adormeciam em uníssono, passavam pelos mesmos sonhos, objetavam as consciências como se de uma só se tratasse.
Quando eram pequenas vestiam a mesma roupa. Tão iguais eram que só os habituais da sua companhia as conseguiam distinguir. As vozes eram semelhantes, o olhar tinha as mesmas cambiantes, as mãos pousavam como se uma fosse a fotocópia da outra – pareciam conchas simétricas. Até no falar eram um retrato fiel. Cresceram como se tivessem nascido siamesas. Não fora o caso, mas os entendidos no estudo da personalidade garantiam que jamais tomaram conhecimento de irmãs tão gémeas. Como de rotineiras análises ao sangue resultou (sem surpresa) uma identidade tão perfeita, a genética interessou-se por elas. Foram precioso caso de estudo dos peritos.
De fora, elogiavam a paciência das gémeas, o seu desapego pessoal em nome da ciência. Ignoravam que elas estavam interessadas na prestação da identidade genética: tinham feito uma aposta quanto à infinitésima ordem de diferenças entre ambas. Uma apostou numa margem de tolerância inferior a dois por cento. A outra acreditava mais nas semelhanças, pois estava convencida que não diferiam em mais do que um por cento. Se tirassem a bissetriz das apostas, fazendo delas a meação, adivinhavam o resultado. No ADN eram diferentes em apenas um e meio por cento. Os peritos ficaram boquiabertos. E ainda mais ficaram quando emparelharam conhecimentos com os peritos do comportamento que esquadrinhavam as gémeas. Por entre tanta igualdade, diferiam na estética das artes, nas ideias políticas, no ativismo cívico, no sentido de humor (ausente numa delas). E, todavia, entre tanto mar de diferenças, nunca discutiram.
Um dia houve que um rapaz, enamorado por uma delas, descobriu outra diferença. Ninguém, a não ser elas, sabia que tinham feito fizeram um pacto de partilha de namorados. O rapaz estranhava que num dia estivesse impetuosa e no dia a seguir aparecesse quase indiferente. Depois descobriu que a frígida era a que tinha um sinal mais pequeno na nádega direita.

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