24.6.14

Landed dreams

Trentemoller, "The Dream" (feat. Low), in https://www.youtube.com/watch?v=luLMlUb2ZZ4
Pega nas mãos e atira-as à água. Sente como a água está fria – e como te afaga as mãos e inaugura os olhos para o dia claro. Revista todas as latitudes do céu. Descobre a luz cintilante que se decanta através das nuvens finas. Abraça-te. Sente o teu corpo, o tumulto que dele se apoderou e o fez mais alto que todos os outros corpos juntos.
Agora: mete as mãos na terra húmida. Na terra que um aguaceiro de verão cuidou de humedecer, enquanto te aproprias do odor extasiante que vem da terra molhada. Vê as tuas mãos saírem da terra, docemente encardidas pelo elemento maior, granuladas pela terra molhada. Não reprimas a luz circundante. Rejeita os olhos que parecem querer declinar os nutrientes férteis que da luz irradiam. Pois sabes que os olhos cerrados sobre as suas pálpebras alojam os sonhos que de sonhos não cuidam de passar. Abres os olhos: um gesto singelo, ao mesmo tempo uma aventura sem precedentes. Removes os sonhos do seu pedestal. Devolve-os à terra húmida que as tuas mãos acabaram de congraçar. E sabes que os sonhos desceram ao lugar onde todas as coisas são fungíveis, onde a matéria é sensível, o lugar onde os sonhos não têm préstimo por locupletarem o tempo tão raro.
Os olhos que descem do céu, alimentados pela luz clara, e as mãos encardidas pela terra humedecida, são a combustão necessária para o segredo a que não podes negar o rosto. Os sonhos desceram à terra. Ou foste tu que chegaste aos sonhos, pouco interessa a distinção. No céu galanteador as nuvens encenam uma coreografia para se porem a jeito de uma subliminar mensagem – uma mensagem que só tu consegues reter: “os sonhos já não o são”. O sortilégio da perseverança trouxe-te ao cais mareado onde as pedras de musgo enfeitam os dias, todos os dias vindouros, com um feixe de luz sumptuosa.
Os sonhos – sabe-lo com garantia – tiveram aterragem segura. Desfizeram-se da indumentária onírica e constituíram-se matéria sensível.