7.3.14

Homem repleto

In http://parceriaadm.files.wordpress.com/2011/06/equilibrio.jpg
Debruçado sobre a varanda, por sua vez sobre o mar. Os pulmões enfartados pela maresia que ouve os outros a gabar. As estrelas que se insinuam entre o nevoeiro campestre são candeias fartas, archotes que ensinam a inteireza. Às vezes, as estrelas são açambarcadas pelo luar branco que alimenta as veias com uma doçura singular. Não interessa se mandam as estrelas, ou o luar, ou as nuvens que tomam conta do céu e o turvam. Como não interessam – não podem interessar – as palavras vãs que carregam em seus ombros a mesquinhez que apouca os seus autores.
Os olhos, na direção algures. De onde sopram os alísios gentios, de onde vejo passar os estorninhos no seu voejar estouvado, de onde cantam melopeias com feminina voz soprana. Algures, mas sempre por dentro de quem conta. Lá, nas profundezas onde se ensinam os olhares que no vazio não buscam refúgio. Onde o sangue ferve nas veias que são ancoradouro firme, onde se inventam os esteios desde finas ramificações de erva rala.
Um homem assim é um homem repleto. Cheio por dentro, extravasando a palavra cantante enquanto empunha o cálice com o vinho divino à espera da celebração merecida. Completo, este homem. Já não contam os vestígios, nem as cinzas que se empurravam contra a soleira da porta. Veio um vento refrigerante e varreu-as, diluídas na brisa estimada. O corpo não se intimidou com o refrigério; sabia, nas profundezas do ser, que num depois qualquer a bonança cultivaria caminho. Agora que há bonança, repleto homem se compôs. Os dedos já não trémulos, sem a indecisão que foi de outrora, nem o olhar decaído nos sobressaltos tantas vezes exagerados. Só conta quem conta, à conta da plenitude que arrimou no umbral da casa neófita.
Os braços abrem-se em toda a sua largueza. Abraçando a totalidade que interessa, como se o tempo fosse precário. Mas é perene o tempo assim abraçado – que se desenganem os irredutíveis realistas. Porque há em todos os gestos, nas palavras que se congeminam (pensadas ou espontâneas), nas mãos que se entrelaçam, nos olhares que são simbiose, nos afetos devolvidos, nos poemas sussurrados ao ouvido de quem ganhou seu merecimento – há em tudo isto, e em tudo mais que perfilha tais pergaminhos, lança mestra na robustez do homem repleto.

Sem comentários: