21.1.14

Caramelos de Badajoz

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Umas raridades. Como as raridades, impreçáveis. Olhos esbugalhados de cada vez que se aprontam ao espelho. É que compraram, propositadamente, um espelho maior que o seu tamanho. O espelho amplia os retratos que são quando se oferecem em autocontemplação. Sofrem de uma rara estirpe de gigantismo. Formigas em corpo de girafa – mercê da ampliação enlouquecedora que o espelho admite. Gostam de esfregar nas fuças dos outros, pobres mortais no restolho da mediania, façanhas que ninguém pode ter a ousadia de julgar lúgubres. São padecimentos irreconhecíveis, a julgar pelo autismo que é sua piscina exótica. Uma espécie de onanismo em que são onanistas de si mesmos.
Mandá-los apanhar bonés – é que deve ser. Ajuramentar a fancaria que se encontra perdida entre os vestígios das inúteis coisas. Se houvesse um caricaturista para os retratar, sairia uma cabeça disforme, só cabeça sem corpo restante, uma cabeça que escondia, na nunca, um caruncho que os olhos não conseguiam discernir. Atrás vem a manada de discípulos obedientes, com tirocínio na genuflexão, orgulhosos por serem pajens. Houvesse complacência, ou porventura quem não transitasse por uma ruela, estreita e escura (e por isso pouco frequentada) de rigor, e a aura seria incontestável. Seriam comendadores precoces, autoridades indiscutíveis, escol com prebendas a condizer, senadores do conhecimento a destilar sapiência em cada palavra dita. Ditariam leis caucionadas pelo seu, muito, conhecimento. Aos demais, resignados à mortal condição, seria imperativo deificá-los. Só que as cores do mundo não rimam com os autorretratos ungidos pelo gigantismo que fazem de si mesmos.
Que fossem deuses de pés de barro; não interessa, desde que sejam deuses. Haveria gente que deles faria matéria-prima para a pilhéria; não interessa, desde que andem nas bocas do mundo. Os do séquito por oportunismo sê-lo-iam, só à espera de meter o dente na primeira esguelha de sinecura; não interessa, desde que haja passadeira vermelha desdobrada à sua passagem. Uma imensa maioria, quase sempre silenciosa, mandá-los-ia à compra de caramelos em Badajoz (talvez nem essa sua serventia); não interessa, desde que fossem caramelos.
Mas, ó contrariedade malfeitora: os caramelos, nem os de Badajoz, são raridades.

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