15.1.14

A chuva lá fora

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A insónia que se demora. Lá fora, outro aguaceiro. As gotas grossas esmagam-se contra a persiana semicerrada, tornam a chuva audível. São o presságio das lágrimas furtivas que um homem não tem vergonha em verter.
Sitiado pelas apoquentações, inerte perante a encruzilhada que promete resoluções, remói por dentro das fragilidades em que se debate. Fecha os olhos como se estivesse a chamar o sono. Como se soubesse que o sono destravasse os labéus que escurecem o horizonte que se projeta nos seus olhos. Que, estando fechados, reivindicando o sono que se dissolveu antes do tempo, distinguem a nitidez dos sobressaltos que são a catilinária que o persegue. Talvez haja apenas um erro de apreciação. Talvez ele seja fautor dos seus próprios sobressaltos. E a chuva lá fora, tão sonora na sua precipitação sobre o chão e as paredes da casa, seja as lágrimas em que se depõe quando o precipício se abeira.
Ainda de olhos fechados, continuando a teimar que o sono, se viesse, turvava os sobressaltos que vieram à tona, percorre as páginas que formalizam as apoquentações. E sê-lo-ão, como julga? A chuva lá fora, se for a metáfora das lágrimas derramadas mercê do entristecimento de si, pode ser um sinal. Mas a chuva lá fora é ocasional. Ora esbarra com fragor nas persianas, ora se silencia amplificando o silêncio da alta madrugada. Acha-se réu das diminuições que o arrastam pelo chão. Se saísse à rua, onde a chuva volta a ecoar, trataria de subir a cabeça ao céu para ser ungido pela chuva. Levantando-se do chão que o consome. A chuva cuidaria de lavar as lágrimas que não conseguisse reprimir. Pois a certa altura, chuva e lágrimas confundiam-se num todo indistinto. Depois regressava a casa, encharcado pela chuva grossa e pelas lágrimas agora enxutas.
Os sobressaltos são iníquos. Mais a mais quando levitam na espuma de um olhar embaciado. Mais a mais, quando atingem quem deles não tem culpa. As lágrimas vertidas, como se fossem representação de lágrimas feridas, formam a cicatriz. O sono ficara de véspera, à espera de ser rematado na noite que viesse a seguir. Em forma de verdejante planície banhada por um dia soalheiro.

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