11.12.13

O mar pequeno das possibilidades imensas

In http://www.youtube.com/watch?v=HRRnosHzdCw
O cais sombrio não era espartilho para o olhar vindouro. Não embaciava o olhar que queria ser maior que as léguas do mundo. Por diante, o mar. O mar pequeno, antes de sair da embocadura da baía e perder as suas baias, entregando-se ao mar aberto, descomprometido.
Era dentro daquele mar emparedado que o olhar se apoderava das possibilidades imensas. Os olhos transitavam pelas pedras encardidas do cais, pelas pedras cerzidas pelo musgo perene. Nas suas costas, a escuridão emprestava ao lúgubre cais uma resplandecência singular. Não era por causa do tempo malparado que o rosto suplicava um outro devir. Sabia que as súplicas são como os arrependimentos, só que trajando diferentes dimensões do tempo. Agravam as dores que vêm pastoreadas na indigência do tempo que se desgasta na exata medida da inutilidade – da inutilidade que açambarca as súplicas para o devir e os arrependimentos do outrora.
As consequências tomavam tudo nas mãos. Era sussurrado ao ouvido da lucidez: que uma centelha depositasse nas mãos a flor que, uma vez afagada, se transformasse em mapa com as coordenadas apetecidas. Mas a resolução não era empreitada de somenos. O mar pequeno era todavia a irradiação das possibilidades que pareciam infinitas. Impunha-se uma decantação das possibilidades, a começar pelas que deixassem vestígios de folhas caducas, amarelecidas e defuntas.
Havia, ao longe, um cedro majestoso que se insinuava, pelo porte, porto de abrigo. Depressa outras três possibilidades abraçaram-se ao olhar como trunfos indeléveis que se prometiam imunes às fragilidades. Um vulto escuro, tão vulto que no meio da penumbra teimosa não se distinguia nas formas, tocava piano, incessantemente. Mal o olhar se desviava para diferentes quadrantes e logo se arrebatava com uma pastagem bucólica onde as reses se alimentavam em regime de slow food. Ou, no meio de uma citadina rua movimentada, o artista de mímica que conseguia o sortilégio de fazer de um gato vivo estátua de cera. Eram tantas as possibilidades, as promitentes possibilidades, que precisava de uma batuta para ser maestro e conseguir orquestrar as prioridades entre o imenso mar de possibilidades açambarcado pelo mar pequeno.
Daria ao tempo o tempo que o tempo reivindicava. Contrariado, por temor que o tempo remanescente fosse uma escravidão mercê da sua exiguidade.

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