3.12.13

Cavalos sem freio

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Sabotaram os cavalos. Pela porta dos fundos, enquanto as reses dormiam, um bando de manipuladores meteu uma mixórdia estimulante na ração de aveia. Os cavalos, sentindo a agitação, acordaram antes da alvorada. Em estando atiçados, açambarcam a primeira refeição.
O efeito do estimulante não demorou. Começaram a relinchar como se tivesse havido um terramoto, levantando as patas da frente em sinal de ebulição. Os tratadores também tiveram uma alvorada antes do tempo: a agitação na estrebaria ouvia-se nos aposentos. Quando entraram na estrebaria, os cavalos espumavam enquanto os olhos se debatiam para aderirem às órbitas. O feno estava espalhado pelo chão. Já não havia água dentro dos logradouros onde os cavalos a costumavam beber. Um coice enfurecido deitara o logradouro abaixo, levando toda a água a enlamear-se com o feno e a aveia que estavam pelo chão. Havia cavalos que faziam menção de atacar os tratadores.
Dois cavalos pegaram-se numa luta medonha. Foi quando os tratadores intervieram. Três deles saltaram a cerca. Procuravam domar os animais desassossegados, usando cordas. Ao sentirem a cancela aberta, os cavalos, cegos em sua fúria, atropelaram os moços que tinham oferecido valentia para apascentar a ira das reses. Ficaram maltratados, com alguns ossos partidos e umas escoriações para memória futura. Os cavalos vieram todos para o exterior da estrebaria. Passaram por cima do que havia na sua fuga indomável. Era vê-los em louca correria, a crina sedosa em esvoaçante movimento, selando a velocidade irrefreável que traziam nas patas. O carro do feitor ficou todo amolgado quando os cavalos treparam pela mala, subiram ao tejadilho e desceram pelo capot em direção à saída da quinta.
Era tanto o alvoroço que o alarme chegou à polícia. Na fuga para lugar incerto, os animais provocaram acidentes de viação. Um dos cavalos foi atingido por um camião e pereceu, em agonia, na berma da estrada. Os outros, sem nunca abrandar, como se estivessem a fugir do fim do mundo, correram sem destino. Apenas queriam correr, comprazer-se com os prados livres e os montes que se ofereciam no horizonte. Os montes onde se refugiaram, intuindo que o alcantilado do terreno era propício a esconderijos que os deixassem invisíveis aos batedores que haveriam de vir em sua captura.
Só na manhã seguinte o estimulante se anestesiou. Os cavalos estavam exangues. E esfomeados, tantas as forças consumidas a preceito da estonteante fuga. Nem assim desceram das montanhas. Elas guardavam, na parte mais alta, verdes prados onde podiam saciar a fome. Era lá, nas altas e quase inacessíveis montanhas, que os cavalos sabiam não haver freios que fossem tenazes do ar livre e puro que era seu bálsamo singular.

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