28.8.13

Sociedade do desperdício necessário


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Um império de lixo. Fatura da civilização como ela se tornou em sua evolução. Tudo o que se produz vem armadilhado em mil e um invólucros que apenas têm a serventia do lixo onde se depositam os desperdícios. Os maestros desta civilização quase asséptica defendem a causa: assim mandam os cânones da higiene. É para tornar a mercancia imune às doenças que andam cá fora e que só nos afetam se as apanharmos por contágio com uma mercadoria mal acondicionada.
É um império de lixo porque somos seus produtores prolixos. Os manuais da ecologia, que se atiram furiosamente à cegueira de uma economia que se interessa apenas pelo lucro, explicam que muita produção desagua nas lixeiras. Os ecologistas sensibilizam para a separação dos lixos, mas depois chegam palavras sussurradas ao vento dando conta que vêm os camiões do lixo e metem todas as sobras inúteis no mesmo sítio. Pode ser uma contra teoria da conspiração de gente a soldo de capitalistas sem sensibilidade para a proteção do ambiente, ao saberem que o ambientalismo desperta consciências a cada dia que passa.
Nesta altura, em que a crise continua a morder sem remorso e a produção arrasta-se pelos mínimos, era bom que um ecologista ou um economista medissem a correlação entre a entrada de desperdícios nas lixeiras e a produção. Voltando aos manuais da ecologia (que denunciam a doença que vem atrás de mais produção), acredita-se que o crescimento com mais produção provoca danos no ambiente. Porque mais produção leva a mais lixo, a mais tratamento dos resíduos depositados nas lixeiras, com mais custos e menos garantias de que a reciclagem terá resultados. Em tempos, que são estes, de crise persistente, era de esperar que menos produção aliviasse a pressão sobre o meio ambiente. Que houvesse menos lixo. Após o natal, quando as crianças mandam para o lixo os plásticos e cartões que empacotam os brinquedos, e a maior frequência com que vamos depositar o que não presta nos caixotes do lixo, são sinais de que a crise não abrandou os desperdícios. O sinais vão contra a maré. A equação desfaz-se numa desigualdade: a crise causa menos produção, mas nem por isso o lixo abrandou.
Somos uma sociedade do desperdício. Do necessário desperdício, se comprarmos a tese dos sanitaristas do momento. (Ou isso, ou – vamos por outra teoria da conspiração – os produtores de plástico e de cartão sentam-se à mesa do poder.)

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