9.8.13

O exorcista de sonhos maus


In http://www.julioalexandre.com/sotaonaohabitado_ficheiros/100404-01-CMP_w280.jpg
Os sonhos malquistos espalham curvas sinuosas no sono. Podiam ficar no sótão do pensamento, naquele lugar recôndito onde os sonhos não desassossegam o sono. Mas o pensamento não tem freio, não somos seus domadores. As noites são uma demanda aleatória. Ficamos à mercê dos sonhos e do que eles encomendam – espíritos malignos que importunam o sono que se queria serenado, fantasmas que teimam em se pavonear no palco sombrio onde apenas se vêm os vultos que os fantasmas são, ou matéria-prima para sinais de surrealismo que apenas a alvorada do sono embaciado consegue resolver.
Mas os sonhos maus têm solução. Encontras ao teu lado quem os esconjura. Agarras-te como se fosse um mastro que defenestra os convidados não convidados para os sonhos em sobressalto. E os sonhos maus dissolvem-se numa poeira que se evapora mal os olhos se desembaraçam do sono corrompido. Sabes que ao teu lado repousa um artesão que amedronta os maus espíritos que acossam de todas as errâncias. Pronto para uma alvorada temporã de exorcismo dos sonhos que tomam mão nas rédeas de um sono apoquentado.
Mesmo ao teu lado, embebido no seu sono amansado, deita-lhe a mão que os sonhos que não foram convidados são escorraçados para outros lugares. Pois a sua pele é feita de um material que corrói pelas entranhas os espíritos malsãos que interpretam os sonhos que são desperdício do sono. Acorda-o, que os sonhos deixam de ser sonhos e o tempo de sono que sobrar virá ungido pelo sono imperturbável de quem encomendou os sonhos maus ao seu destino sepulcral. Só por estar ao teu lado, regaço a todo o tempo onde se diluem as improfícuas sendas dos sonhos maus.
Noites assim são uma quimera que deixou de ser sonho. Os corpos repousam na eternidade de noites que assim são. Efémeros são os sonhos maus, condenados à sua própria senilidade pela unção de quem se oferece teu regaço.

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