5.8.13

O capataz não sobe a patrão


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O mar inteiro de ilusões: os capatazes são para o serem, capatazes. Quem, algum dia, sentenciou a possibilidade de os de baixo treparem pela escada até atingirem a cumeada, estavam a ser tutores da maior das ilusões. Desenganem-se: não há sonhos que assim sorriam a não ser aos ingénuos. E há ingénuos de todos os calibres.
Depois de bem pensar no caso, mal não fará que os capatazes não subam ao lugar dos patrões. Sobretudo nestes tempos difíceis, com as falências a morderem nos calcanhares de tanta gente que fora agraciada pela abastança e que entretanto mergulhou na miséria escondida pelo falso orgulho. Os capatazes que quisessem inverter a escala teriam muitas cefaleias para aguentar. Não estão à altura do desafio. A não ser que acreditemos num qualquer arauto da ingenuidade e demos como assente que há uma conspiração dos ricos para empobrecer os mais pobres, a vida é mais sossegada para os capatazes que não tiverem pretensão de ascender na escada social.
Que não saia daqui impressão de insensibilidade social. Nestes tempos conturbados, os capatazes safam-se da constante apoplexia que pende sobre a respiração sobressaltada dos patrões. Um capataz tropeça nas apoquentações da sobrevivência, mais a mais agora que toda a gente vive à míngua e que é sobre os que vivem à míngua que o dente aguçado da crise morde mais depressa. Os patrões, habituados que estavam à sumptuosidade, eles que não foram habituados a conviver com a escassez e a prescindir do requinte e do deslumbramento social, levam com alvoradas acossadas com o estigma da perda. Não souberam, muitos deles, ser precavidos e adivinhar que um dia qualquer os tempos maus seriam fotografados na moldura que é esteio para os olhos.
Entretanto, os capatazes continuam apenas a sobreviver. Sem as demais dores de cabeça que afligem os impreparados patrões. Por estes dias é que se pode afiançar que os capatazes não ambicionam ser patrões. São mais sagazes do que isso.

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