8.7.13

Sorvetes e finos


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Este calor de ananases é uma maldição. Importamos as temperaturas de outras latitudes e, impreparados, ensaiamos reação. Uma reação lúcida é o povo meter-se ao sol no pino do calor, quando os termómetros andaram a roçar os quarenta graus pela sombra. E os corpos que se desnudam no que podem, uma conspiração do santo padroeiro da climatologia contra a estética. Como os calores estão no auge, os corpos destilam suores em doses industriais. Os odores pestilentos campeiam na rua, quando alguém suado deixa uma peugada odorífera que obriga a tapar o nariz.
Outro sinal do verão descontextualizado da geografia é a ânsia de refresco. É bom para o negócio dos sorvetes e da cerveja. Com o grande poder que as cervejeiras têm (não patrocinam tudo o que tenha ressonância com festa de estudantes universitários?), estou admirado que os tutores das teorias da conspiração ainda não se tenham lembrado de advertir o povo que a canícula foi encomendada pelas empresas da cerveja. Deviam ir mais longe na teoria conspirativa: diriam que estudos científicos provam que o consumo de cerveja é aditivo, pois há no lúpulo uma substância, que estava escondida no seu código genético, que provoca a habituação quando a cerveja é ingerida com mais de trinta graus de temperatura ambiente.
O povo ingrato, que não dá ouvidos aos novos comunistas que apenas querem o bem do povo (e o pior que se puder pensar para os grandes capitalistas), não consegue aprender a ter disciplina mental e enfrasca-se na cerveja, uma atrás da outra, enquanto o calor de ananases corrói a paciência da epiderme. Um dia haverá em que os novos comunistas serão compreendidos na sua imensa bondade. Nesse dia, ficará provado que as cervejeiras têm um pacto com o santo padroeiro do clima (e mandam nos governos que passam pelo poder). O povo seria mais feliz, sem ser uma felicidade de alienação, se desse valor aos valores que contam para o crescimento da civilização. E não ganharia a adiposidade que deslustra os abdominais escondidos debaixo de uma avantajada pança.
O calor é uma cortina que embacia aqueles valores. Houvesse disciplina mental e sentido de justiça, o calor era uma vírgula no caminho da justiça social.

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