4.6.13

Curandeiros


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(Podia ser um retrato das coisas como elas andam)
Se alguém tem uma doença, vai ao médico. Se a doença persiste e retira a confiança ao médico, procura outro. E outro atrás de outro, enquanto a maleita persistir. A certa altura, deixa de ter confiança na medicina tradicional. Entrega-se aos cuidados de curandeiros que prometem a redenção através de mezinhas e tratos esotéricos. O desatino pode dar nisto.
Se o desnorteamento não chega a tanto, e se a forma convencional de ser faz deste nosso cidadão o protótipo da mediania, não chega a perder a confiança na medicina. Vai mudando de médico. À medida que os tratamentos confecionados deixam de ser paliativos e as dores crescem na embocadura de cada manhã, cavando o fosso onde o ser decai. É então que muda de médico. Informa-se. Há médicos outros que prometem tratamentos diferentes. Um fogaréu de esperança invade o nosso doente. Demite o médico incapaz e muda-se para as prescrições curandeiras do médico que oferece terapêutica alternativa. Iludido pela consumição do sofrimento, o nosso doente nem dá conta que se entregou aos médicos que foram causadores do seu mal. Os mesmos médicos com um receituário que, na volta da curva, foi a semente da doença do nosso cidadão. Ele, desesperado pela dor que morde tão incisiva, quer que lhe prometam mundos que sejam a desconfiguração da enfermidade teimosa. Talvez a ansiedade embacie o juízo. E o nosso doente nem dá conta que voltou para os braços dos mesmos médicos que o acamaram nesta pungência.
Estes, vestindo a branca bata e ostentando vistoso estetoscópio, fazem-se passar por o que afinal não são. De curandeiros não passam – ou, vá lá que a condescendência pode ganhar seu lugar, foram medíocres estudantes de medicina e continuam a ser seus maus praticantes. Desembainham receituário repetido, nem sequer percebendo que o cocktail de medicamentos que preceituam foi a dose quase letal que entregou o nosso doente aos padecimentos hospitalares.
O que se dirá de médicos de semelhante jaez? Que de curandeiros não passam. Amadores e míopes.
(Podia ser um retrato das coisas como elas andam. E não é que, pelo andar das coisas, é mesmo seu retrato?)

1 comentário:

Museu Nacional de Soares dos Reis disse...

Quando era criança não percebia por que razão, nas mais diversas circunstâncias, os adultos (principalmente os que tinham idade de avós) se despediam de mim com os olhos brilhantes e as seguintes palavras: "saúde, minha querida menina ... muita saúde). Agradecia e pensava: Mas eu não estou doente!
Hoje, compreendo. Eles tinham toda a razão ...