7.5.13

Amorosa política


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Oh! crime de lesa majestade que sofres, língua mãe; atentando soez que te emprenha de mudez, ó semântica do romance: quando de vós trazem os tiques que em vós bem assentam mas que mal se quadram com a política.
Ele são os arrufos entre o primeiro-ministro e o ministro do negócios estrangeiros. Uns protestam, com a agonia da mudança (ou o fito de se tomarem na posição de nubentes de um futuro enlace no trono do poder): reclamam que este é um matrimónio de conveniência. E que, mandam os bons costumes (como se os bons costumes interessassem), os casamentos por conveniência sejam desfeitos para se terminar com a infâmia à “instituição matrimonial”. Outros fazem hermenêutica aos amuos do chefe do partido mais pequeno, que, matreiro como é conhecido no meio, deve andar a fazer contas para capitalizar em proveito próprio mais este amuo. Alguns mendigam uma intervenção veemente do autoproclamado “supremo magistrado da nação” – como se, a um juiz, coubesse botar sentença num divórcio que não foi iniciado. Esquecem-se, esses apressados, que ao juiz não cabe desatar os nós do divórcio, que apenas o deve arbitrar. Outros ainda, passeiam a seu contumélia porque o líder do governo arrastou a asa ao líder do maior partido da oposição, consagrando uma palavra envenenada (consenso) sob o bom patrocínio do juiz supremo.
E eu digo, perante este acesso de infantilidade retórica, que atira para as páginas da imprensa de alcofa os segredos debaixo das almofadas dos consortes: parem de insultar a linguagem do amor. Não a misturem com a política, que a política é a arte do desamor – ou os antípodas do amor, que vai dar no mesmo. A infantilidade toda é herança dos líderes partidários ainda impregnados de acne juvenil, pois foram líderes das juventudes dos conclaves a que presidem. Um fim. Urgente. Para não contaminarem a linguagem do amor, e a língua mãe, com o anticlímax que é a linguagem da política.
Devia-se instruir adenda constitucional (já que agora a tudo se faz prometer os merecimentos da Constituição) que proibisse palavras amorosas na política. Pois a política não pode ser amorosa. Ou o amor acaba servido na sua banalização.

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