19.2.13

Dos olhos que há nos olhos meus


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Uma constância total. Embebido o olhar, como se um espelho fosse o oráculo onde se purificam as palavras, onde os gestos resgatam um sentido. Os olhos que entram nos olhos meus são meus por seus serem os meus.
Neles amanhecem os dias. Bebem-se as impurezas do mundo. Decantam-se, essas impurezas, nos olhos crepusculares. Dizem-se os poemas em uníssono pelas gargantas que jamais se fatigam. Emolduram-se em eternidades prometidas as janelas por onde os olhos se aquecem de tanto se olharem. É neles que as iras se temperam e as melancolias se desfazem numa nuvem de poeira sem serventia. Os olhos por uns olhos reduzem as servidões a um nada, desarmando as memórias que são espelhos baços que se opõem à diária peregrinação dos olhos desassombrados. E os olhos, por interpostos olhos, angariam os passos para uma coreografia só testemunhada pelos olhos que a encenam.
Nuns olhos que amaciam os olhos que neles repousam vê-se o mundo inteiro. Pertence-lhes um demorado amplexo, os corpos gravitando na aurora, demorando-se o tempo que preciso for. Os olhos que emprestam as cores ao mundo. Os olhos que, pelo rubor exalado nos olhos que são suas cortinas, congeminam a matéria aveludada em que se deitam os corpos. Mesmo quando se entregam ao sono, são vigilantes que se protegem no descanso dos olhos outros.
Nos olhos que são meus através dos seus, como os meus são doutros por deles serem, as mãos atravessam-se em sua fusão. Sem posse que sitie os olhos, que a entrega é voluntária por congraçar mil deleites. Na intemporalidade que for entronizada, pois aos olhos em sua coreografia original compete embainhar o tempo. Olhos assim cerzidos são fusão impossível de retratar, impossível de devolver ao papel em forma de palavra.
Entreolham-se, veem-se em todos os ângulos – até dos ângulos que, mandam as convenções, deles se diz estarem mortos. É tudo matéria viva, loquaz, um aquário onde apetece pedir água, os olhos que, na profundeza de uns olhos outros, imperadores de todos os impérios são.
Os olhos que entram nos olhos meus são meus por seus serem os meus.

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