22.1.13

O caixão da razão


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Ah, os campões da razão, como os não invejo. É vê-los por aí, ufanos, imperturbáveis em toda a sua elevada sapiência, detentores de uma erudição balofa, decretando sentenças sobre quem é ignorante e quanta ignorância ostentam. Ah, como são meirinhos do conhecimento, ou pelo menos nessa condição se entronizam. E são narcisistas, como se um mal sozinho não viesse.
Deslizam a sabedoria e ungem-se das teias de aranha que vão buscar aos arcanos que julgam intemporais. O tabernáculo da história transforma-se num oráculo indigente que pressagia tudo o que aí vem. Encerram-se no seu caixão da razão gatafunhado na escuridão de onde apenas eles conseguem discernir uma luz qualquer. Prouvera que nidificassem nas águas da humildade. Prouvera que se não enchessem de imperativos categóricos, certezas incontestáveis e aberrantes enxovalhos de quem os contesta. Ó!, supremo pecadilho, o da contestação. Tamanhas sumidades não admitem o contraditório. Possuídos pelo dom da razão, mergulhados no umbiguismo que injeta nos olhos uma imagem de si mesmos que ultrapassa a que vem nos espelhos quando neles se olham, nem dão conta da sobranceria desagradável. Pois são gente desagradável.
Haja lugar à comiseração por estas sumidades que adejam com a sua zéfiro assertivo sobre os néscios (que são todos os demais que não foram admitidos ao restrito escol dos iluminados). Fale alto a comiseração, porque definham num lugar esconso de onde praticam a pesporrência de que se ungem. Dir-se-ia que não se pode cometer o topete de os contrariar; tratam, de jacto, de remeter os oponentes ao que julgam ser um caixão da razão. E depois gabam-se do triunfo, como se fosse mais importante humilhar quem os contraria.
Mas a sua imensa pequenez está no pequeno lugar intelectual a que se abraçam, anquilosados: a razão não se objetiva. Se ao menos soubessem disto, davam conta que são eles, à conta de tanta sobranceria, que se imolam num caixão da razão.

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