20.12.12

Colonialismo às avessas


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Deus, se existisse, seria a autoridade mais respeitada na política  internacional. Se existisse (o que ainda carece de prova), seria caso para dizer que a política internacional faz jus à justiça divina. Pois foi ela (justiça divina) que fez o favor de colocar a abundância de importantes recursos naturais em países que foram ungidos pela pobreza durante grande parte da sua história. Aliás, ecoando a conjeturada omnipresença do deus cuja existência está em processo de comprovação, ele já tinha dissipado a sua inata bondade quando congeminou as vontades que autorizaram a independência das terras que eram colónias. Umas décadas mais tarde, alguns desses jovens países já andam em bicos dos pés, resgatados às cócoras pela intervenção divina. Deus deitará um olho mais atencioso aos que fraquejam na relação com os mais fortes. Incapaz de lidar com injustiças, a entidade divina repõe a ordem com favores aos mais fracos. Afinal, a discriminação positiva tem selo divino.
Uma parte da história não bate certo. Deus, dizem, imerso na sua infinita bondade, não abona maus instintos. A infinita bondade, dando lastro à discriminação positiva que abriu alas a jovens países ao altar dos poderosos, não quadra com a pose altiva, arrogante até, que deixa na atmosfera um odor a vingança. A vingança não é um sentimento acarinhado pela doutrina de deus.
Os calhamaços divinos, com a ajuda da hermenêutica dos teólogos, fornecem explicação. As boas ações dos homens são entranhadas por deus. Foi deus, pois, que convenceu os lutadores pela independência a morderem nos calcanhares dos colonizadores. Tanto levaram a água ao moinho que, a bem ou à força, chegaram ao desiderato. Mas o deus de suposta existência não pode domar os maus instintos que afloram à epiderme dos homens. Ou, se quisermos embarcar numa versão heterodoxa da ação divina, a vingança dos ex-colonizados, agora transformados em neocolonizadores pela batuta dos seus investimentos, é o preço que os neocolonizados pagam por terem tanto tempo aproveitado do sono de deus.
Às tantas, a sobranceria vingativa dos neocolonizadores devia ser virada contra o deus da suposta existência (por causa do longo sono de deus). Ou deus não controla a política internacional e nós nem desconfiávamos. 

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