28.11.12

O labirinto


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Um vulto. Parecia que um vulto vinha atrás. Estava em sobressalto por causa das sombras que se fundiam na escuridão e de uns ruídos medonhos que vinham do nada. Continuava a andar entre corredores húmidos e baixos. Às tantas, água fétida misturava-se com os sapatos.
Andava em círculos há horas. Quando via uma sobra de luz entreolhando uma fenda, arremetia caminho. Logo a seguir, voltava a usar a candeia que segurava nas mãos. O labirinto parecia não ter fim, não ter saída. Havia portadas encerradas a cadeado. Por mais que as empurrasse, só conseguia fazer ranger as dobradiças das portadas tomadas pela ferrugem. O rastilho dentro da candeia apagava-se. O combustível rareava. Temia que o espaço dentro do labirinto cerceasse o ar. Lembrava-se de pesadelos em túneis apertados, o lugar onde a claustrofobia sitiava os gestos. Lembrava-se de filmes de suspense, um quase féretro na armadilha de um túmulo para onde fora empurrado, encerrado com umas pazadas de terra revolvida.
Estava inquieto com o vulto que, tinha a certeza, o perseguia há algum tempo. Numa encruzilhada, encostou-se à parede humedecida pelo musgo. Estava exangue, a lucidez em evaporação. E depois de tantas encruzilhadas, não sabia por onde meter os pés. O vulto parecia sussurrar a também respiração ofegante quase no seu dorso. Virou, num ápice, o rosto para trás. Ninguém. Mais ansiedade: ao escutar passos que eram uma ausência, a imputar ruídos a alguém que julgava coincidir no labirinto, percebia que o entendimento entrara em letargia. Na encruzilhada, meteu pelo caminho da esquerda. Mais à frente, notou um sítio por onde já passara (o esqueleto de um animal de companhia sinalizava aquele sítio).
Lá fora, já era hora para ter anoitecido. Com este pensamento, o teto começou a descer, lentamente. Teve de baixar a cabeça. Arquear o corpo para não ser esmagado pelo peso dos tijolos molhados que se deitavam, nas sua tonelagem, sobre o corpo. Já de joelhos, prostrado e resignado a não encontrar refúgio do labirinto onde entrara sem saber porquê, sentiu uma mão a pousar no quadril. Era o tio em pijama, com uma lamparina a incendiar a escuridão do quarto. Tinha sido um pesadelo.

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