2.11.12

Eu sei


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Eu sei de coisa nenhuma. E algumas são as coisas, muitas até, que repicam os sinos da inquietação”, proclamava com alguma angústia à mistura. À sua frente, o outro agitava-se, incomodado. Como era possível tamanho estado de negação? Como era possível, se a simples observação das coisas desocupa o desconhecimento? Contrapunha, dizendo em voz assertiva: “eu sei de muitas coisas, das que se atravessaram no tempo dobrado, das que tingem o céu com as cores atuais e de algumas futuras que, mesmo sendo agora incógnitas, algures mais tarde trazidas serão para o arsenal do conhecimento.” E continuava o discurso convincente, assegurando o que sabia sem hipótese de hipotecar o conhecimento. Do lado de lá, um rosto consumido pela maré das hesitações. Tudo podia ser algo mas também o seu contrário. Para juntar complexidade ao assunto, as coisas tinham as suas declinações que depois se desdobravam em ramos, como se um rio se destroçasse nos braços de um delta ao sentir o cheiro da maresia, o sinal da sepultura fluvial. As mãos mostravam o sobressalto contínuo do pensamento dividido, do pensamento mergulhado nas profundezas de um labirinto. A agonia vinha ao epílogo quando o aio das certezas ostentava a sobranceria das certezas imperativas, a cobro de qualquer hipoteca. Este sabia ao que vinha. Sabia o que dizia. Sabia das certezas a que tirava a esquadria. Ou julgava saber. Talvez o dorso estivesse preso às dores de uma consumição interna ocultada para não pôr à mostra fragilidades proibidas. Justamente o contrário do outro, que acordava todos os dias imerso na sudação das dúvidas que podiam, ao menos, ser intermitentes (mas não eram). E, por entre os antípodas que eram, os dois sabiam que eram complementos recíprocos. Equilibravam-se nas respetivas fraquezas. Aquele que julgava sobre nada ter certeza alguma, era o bastião do pretensioso das certezas cerzidas em ponto de cruz definitivo. E este servia de compensação ao outro. Tantas eram as certezas juntas, que de tanta desconfiança gerarem ditavam a consagração das existenciais dúvidas.

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