6.11.12

Cavaco emudecido


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Será que sua excelência anda afónico? Faz tempo que não lhe ouvimos a voz ansiolítica nem lhe vemos a pose seráfica. Nem sequer através de recados mandados para os jornais (exceção a uma entrevista a um jornal espanhol, onde mandou os recados que não tem coragem de dizer na paróquia a que preside). Emudeceu. Pela parte que me toca, é quando mais gosto de o ouvir. Ao menos não disparata. Mas os comentadores, com o senador Soares em pose pomposa a encabeçar o cortejo, exigem que Cavaco atue. Querem que Cavaco puxe as orelhas ao governo (versão simpática), ou que o ponha na ordem (eufemismo para demissão). Outros pretendem que Cavaco tenha saudades da fatiota catedrática e se esqueça que é presidente de uma república cadente, puxando os galões do “mais conceituado economista da pátria”, só para chamar ao gabinete o ministro das finanças e lhe lembrar as lições dos seus calhamaços. É sentença nesses calhamaços: com a crise que há, não se deve cortar na despesa pública nem insistir tanto no desendividamento. Ora, na pele de um dos “mais conceituados economistas da pátria” em geral, e do mundo em particular (qualquer taxista o diria), Cavaco devia reensinar as lições da economia ao ministro das finanças. Não interessa que sejam lições démodé, bafientas. Ninguém notava que metesse o bedelho onde não é chamado, pois se o governo é inepto, venha Cavaco, o providencial, tapar os buracos – exigem, sobretudo, os que nem sequer votaram em Cavaco para presidente. Outros, mais cínicos, insinuam que o silêncio de Cavaco é uma armadilha que está a ser montada. Ele está à espera do momento certo para dar a estocada fatal no governo. Para ficar com o nome debruado a ouro na história da democracia que há (sobretudo para alguns inesperados admiradores de esquerdas). Tenho hipótese alternativa: Cavaco anda calado porque se engasgou com uma fatia de bolo rei que abocanhou alarvemente. O engasganço emudeceu-o. Para bem de muitos ouvidos. 

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