12.9.12

Sacos de pancada, ou pugilistas?


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Há outro modo de ver os tempos tumultuosos que atravessamos. Já se sabia, quando a austeridade aguçou o seu dente canino, que iam ser alguns anos passados pela faca dolorosa. Ninguém gosta de perder regalias. Todos as perdemos: ou porque o fisco anda à solta com uma voracidade medonha, ou porque os réditos emagreceram. Mas as dificuldades cansam. A resistência esgota-se quando quem manda, manda dizer que há ainda mais cinto por apertar. O esgotamento é a raiz quadrada do saque fiscal, da sensação não desmentida que os que mandam parecem mandados por empresas sumptuosas que se movimentam nos corredores do poder. (Empresas que envergonham os liberais de boa cepa: elas estão obstinadas com o lucro obsceno e detestam a concorrência. Isto não é capitalismo. Isto é soberba de uns quantos que querem monopólios à custa de quem consome.) Eis o outro modo de ler estes tempos tumultuosos: sempre fomos sacos de pancada. O que varia é a força com que o varapau cai nas costas. Nos últimos tempos, a vergastada foi severa, deixou a carne viva à mostra, quase até ao osso. Cultores de uma bovinidade anestesiante, damos as costas como se fossem saco de pancada que os mandantes, em pose sadista, têm prazer em percutir. Mas tudo tem um fim. Ouve-se em surdina, ou lê-se com as letras todas. Um coro de protestos a levantar-se do nada. Desenganem-se os que pressagiam a revolução a ensaiar os primeiros passos, que a revolução é logo apropriada por aqueles que estão adestrados no modo. É muito mais do que isso. Talvez seja a injeção de iniciativa que os cidadãos precisam. Para acordarem da letargia em que são metidos entre cada eleição. E, talvez, queiramos mudar o estatuto a que a bovinidade anestesiante nos trouxe: deixaremos de ser sacos de pancada. Se nos vão à carne e até os ossos querem, hipotecam os mínimos de dignidade. Quem gosta de saber que uma fatia grossa do seu esforço entra nos cofres do fisco? Este é o último talvez: o tempo de enfiar as luvas de boxe e sermos pugilistas contra quem nos saqueia.

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