23.8.12

“Quando alguém aponta para a lua, os idiotas olham para o dedo” (antigo provérbio tibetano)


In http://neosurrealismo.com/artworks/painting/1999/1999_dedoqueapontalua.jpg
Tira as pevides do melão antes de o comeres. Olha que a pele do pêssego não é um pano de engomar ecrãs de computador. Sossega, os pássaros cujo nome desconheces não te roubam a fatia de courato pousada em cima do pão enquanto, com a mão sobrante, sorves ruidosamente o copo de vinho corrente. Tens bom remédio para a diarreia: lava as mãos quando vieres da oficina, lava-as sobretudo se fores à amesendação. Não enxotes a culpa dos ombros onde ela deve repousar, deixa sossegados os ombros alheios. À noite, não esperes claridade diurna. Nem em noites de potente luar. Achas que os biscates são a fuga salvífica à longa mão do fisco e esgalhas gargalhadas sonoras ao veres os laparotos que não conseguem fugir à alçada dos impostos. Tu lá sabes quando te delicias com a mesma música ouvida pelos emigrantes em visita estival – o que te diferencia na negação da estética? És tão voraz voyeur das vidas dos outros, que se te incendeiam as veias quando lês umas frases mal cerzidas na imprensa da especialidade. Depois, viciado na curiosidade, és refém das patranhas que te pegam os que se empanturram com a venalidade tua (e dos teus semelhantes). Se eles apontam ao céu, jurando que a lua está lá toda, gorda e reluzente, desvias a atenção para o dedo. Vês como o dedo aponta e decretas pensamentos inanes sobre o dedo emproado na direção do céu que brilha sob o efeito do luar. Às tantas, consomes-te nos epitáfios de ninguém, tal como um pobre homem errante que falha todas as estradas que importam, enquanto vagueia pelos atalhos enlameados que desaguam sempre num beco de onde não há saída. Apraz saber que te enches de contentamento interior, que és o tu próprio orgulho. E o que interessa se é por defeito de lucidez, ou por convicção de que és de uma especialidade singular?

Sem comentários: