6.7.12

Esticar a corda


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Os carris: por onde as pernas deviam andar. Se tudo fosse harmonia, se tudo fosse uma equação cósmica de equilíbrio múltiplos – e todas as pessoas, a encarnação do equilíbrio. Ao aterrarem no chão pedregoso, os pés sabem que o tempo deste otimismo está pelas horas da morte. As paredes são porosas quando as mãos por elas sobem. O horizonte embacia-se numa demorada penumbra. Os olhos acordam prostrados, contagiam o resto do corpo. É um torpor que fervilha nas veias para logo deixar o corpo amordaçado numa sonolência fastidiosa. Só apetece o nada. Ou dormir horas sem fim, como se pelo meio do sono, sonhos houvesse a mestiçar os cenários medonhos que os dias compuseram.
Fora dos carris, o chão tomado por silvas cheias de espinhos. O lugar certo para as pernas afogadas nas silvas esbarrarem em serpentes hibernadas. Se por dentro dos carris é o torpor sobrante, os pés têm de se aventurar onde jamais os mortais se inquietaram. Será o temor do desconhecido, ou o pavor de répteis ocultados na selva de silvas, a entorpecer o passo. Que se estorva no embaraço. Mas há um momento que convoca propósitos. Ou o corpo avança por onde jamais ninguém ousou, ou se entrega à indolência que se aviva na maré da rotina. É uma corda que se estica, desafiando as leis da gravidade. Há de se estilhaçar, a corda, numa das suas extremidades.
Resoluto, o corpo abeira-se dos limites que franqueiam o solo virgem. Intimida-se. Demora-se nos instantes consumidos pelo embargo, como se houvesse uma voz furtiva que sussurrasse a inação. Os braços esticaram-se o mais que puderam, e com eles a corda. À força de tanto tentar, a corda rebentou pelo lado que insinuava o baraço do desconhecido. A inação era já doença. Cada dia sufocado pela inação era o dorso da doença a ficar em carne viva. Só sobrava a solução que veio no oráculo da corda em rebentação.
O ar parecia diferente, já não rarefeito. As cores iluminaram-se. O céu cresceu na sua luminosidade. Os dias passaram a amanhecer vivazes, cheios de palavras em forma de poesia. A corda esticara para um lado acertado.

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