21.6.12

Solstício


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O dia maior. A claridade estende-se pelas horas maiores. A noite fica anã. Nos sítios árticos, a noite desfaz-se em nada, locupletada pela irradiação da luz diurna. Não há noite, sequer. O solstício estival é inimigo dos morcegos, dos animais albinos e dos amantes da vida noturna. Pobres dos últimos, que esperam com impaciência até que a penumbra se desfaça no horizonte. Mas é noite fugaz, o ocaso da escuridão em breve aprazado pelo despontar apressado do sol que se pressagia quando aos olhos se anuncia, vinda de nascente, a claridade madrugadora.
Estranhamente, no dia mais largo é quando o Verão mete o seu tirocínio. O Verão é a estação mais quente; a estação que convoca deambulações noturnas quando as noites, ainda curtas, vociferam aragem exótica. Mal o Verão entra em cena as noites engordam minuto a minuto, dia atrás de dia. Estranha alquimia. Se as noites compridas são uma temperança invernal, elas começam a montar no tempo reservado à claridade diurna assim que o Verão – a antítese da invernia – descobre a sua alvorada.
O solstício devia ser a consagração da claridade. Deviam os seus amantes entoar cânticos que prolongassem a agonia da noite que esbarra na teimosia do dia mais largo. Podia ser que à força dos cânticos a luz diurna se estendesse além das horas ditadas no almanaque.
A luz diurna é um palco sem cortinas na retaguarda. Sem atores simulando cantorias, apenas balbuciando palavras sem som. É a luz que se incompatibiliza com disfarces e ardis. Nessa luz os dedos passeiam-se pela nudez das coisas, onde não há tempo e modo para os arremedos que transbordam artificialidade. Na duração interminável do dia do solstício, aviva-se a sua finitude. Quando o sol se evapora no fio do horizonte, rocia o primeiro perfume invernal através da inaugurada estação estival. Um paradoxo. À imagem do planeta que nos alberga.

1 comentário:

Vanessa, a Mãe Possessa disse...

De entre tanto rituais pagãos sobrevividos pelos séculos do séculos, muitos dos quais sem grandes alicerces (pelo menos aos olhos dos dias de hoje), o solstício foi elegantemente banido.
Merecia melhor sorte, por tudo isso que apontaste e mais um bom punhado de grãos de areia de razões!