6.6.12

Fora da lei


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Imprime o cartão. O cartão de presidiário. Que foges para os braços do cárcere. Tantas as travessuras, excita-te o cheiro da ilegalidade. Até te fizeste bacharel em leis só para com elas travares conhecimento. Só para melhor saberes como as rasgas.
Dizes que não tem explicação. Reconheces a consciência do ilegal – tanto que até te esmeraste no estudo das leis. Admites alguma esquizofrenia a correr nas veias. Ao deitar, depois de outro dia preenchido por ilegalidades, a cabeça adormece no seu arrependimento. Arrependes-te quando as ilegalidades apanharam vítimas inocentes. Arrependes-te da delinquência inconsequente. Mas, ao acordar, depois de um sono apaziguado, retomas a fúria criminal. E caldeias as dores de consciência: assim como assim, os inocentes apanhados no meio da avassaladora destruição das leis não são vítimas. Tu queres meter o punhal bem fundo na carne das autoridades. Escarafunchá-la vistosamente, até o sangue se derramar em torrentes quentes.
Admites o cadastro. E sabes que és perseguido pelas polícias – e até o teu retrato aparece anexado às paredes encardidas, o cartaz encimado por um luzidio “procura-se”. Tiveste de puxar lustro a outros predicados: os disfarces deixam vir à rua sem seres importunado pelos agentes, fardados e à paisana, que partiram em tua demanda. Ah, como te dá prazer cruzar, uma e outra vez, com os agentes da autoridade. E como te acometeu um prazer indizível quando um polícia, empunhando o cartaz com o teu rosto fora de lei, perguntou se conhecias o foragido.
Não te atemorizas com o sobressalto contínuo. Tens a consciência que um dia será a última noite que repousas o sono no teu quarto. É tão jovial a fraudulência que assumes o risco calculado. Mesmo ao rever as narrativas dos muitos criminosos que se tornaram peritos em evasão à polícia mas que, num epílogo qualquer, caíram às mãos de uns polícias triunfais.
A pior prisão que tomas como certa é a ladainha de uma biografia com os passos contados, sem que os pés arrisquem dois decímetros fora das baias.

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