11.5.12

Rosas sem espinhos


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Não eram umas mãos como outras quaisquer. Não eram uns olhos vulgares – e, todavia, tinham a cor mais vulgar que uns olhos mediterrânicos podem ter. O cabelo, abundante e cerdoso, vinha molhado. (O banho tinha sido em vésperas desses minutos.) Havia elegância, um andar gracioso pelo corredor fora. Um passo que, só de o escutar, já era identidade. Os lábios, apetecíveis, dedilhavam palavras numa voz doce. Eram uns minutos breves que ecoavam como horas.
E, contudo, as palavras trocadas não conseguiam romper a fasquia do banal. Era um bloqueio mútuo. As conversas ficavam reféns de um particular interesse comum. Tudo se passava como se uma fasquia se afivelasse tão alta que os corpos renunciavam ao ensaio de a superar. Em instantes que derrotavam a timidez, os olhares cruzavam-se num esboço de cumplicidade. Como se os olhares se substituíssem às palavras que ficavam à boca de cena, das palavras que queriam a sua combustão espontânea mas capitulavam nas hesitações, nos medos que adejavam com o sorriso facínora dos fantasmas.
Podia ser que as palavras que tropeçavam em silêncios forjados fossem uma mensagem subliminar, a antinomia de dois sujeitos. Podia ser que o atilho que deslaçava os sentidos, que julgara sepultado nas margens pantanosas da juventude, viesse outra vez assombrar os dias de agora. Ou podia tudo querer dizer que havia uma cautela como não houvera jamais, a demanda de uma depuração dos sentidos que vinha na vez da impaciência que nunca deixara desaguar em águas calmas.
Os possíveis sentidos entrecruzavam-se diante dos olhos. Fundiam-se na atenção das coisas restantes. Às vezes, havia um impulso para o passo que julgara faltar. Logo reprimido pelo frémito que transtornava a clareza do raciocínio. Talvez fossem ambas as coisas: a sede de não cavalgar no arrependimento; e uma intuição. Talvez enfeitiçado, e talvez por essa razão, metia travões aos instintos. Porventura pela primeira vez. Ou devolvendo à terra recalcamentos que julgara extintos.

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