10.5.12

Delete and reset


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Primeiro a ignição. Tudo tem um começo. Podem os braços decair, apoquentados pela ausente coragem. Mas pode muito mais o pensamento. Pode mesmo muito. Quando movido por uma indomável onda que sobressalta as entranhas, que tudo descompõe e não deixa de pé as vassalagens aos tempos de outrora.
Forja-se um castelo amuralhado. Onde tudo se esconde do exterior, nada com serventia para os forasteiros. Dizem que é um autismo qualquer, um corso onde desfilam os fantasmas que teimam em adornar as esquinas onde se vertem cálices de vinho azedado. Os dias que soçobram na sua teimosa escuridão não ajudam. Mas de que servem as lamentações? Qual o seu préstimo, que não seja o de alisar as paredes que escorregam para um precipício sem fundo?
Segundo, derrotam-se as teimosias. Todas as teimosias. Até as que julgamos não o serem. Aquelas furibundas melancolias que transbordam das margens e acometem sobre quem, desprevenido, nas imediações se passeia. Difícil é dar guarida aos sedimentos de lucidez. Um dia, encontra-se o seu paradeiro. Que ao menos a metódica parafernália para isso tenha valimento. As cortinas que dantes embaciavam os olhos começam então a cair. Umas atrás das outras. Há de vir um instante em que tudo se renova. É o teu refrigério. Fecha os olhos. Demora-te, se preciso for. Não te incomodes com o vento fresco que entra na pele e corta até os ossos. Quando o pensamento estiver em hibernação, que é quando não deres conta dele, podes abrir os olhos.
Saberás então que conseguiste o apagamento dos vestígios que deixavam em carne viva as feridas que recusavam cicatriz. Quando abrires os olhos, até a paisagem será um quadro desconhecido. Olharás para as tuas mãos, para a roupa de que entretanto te despojaste, para a cor do céu e da vegetação limítrofe. Quando chegares à beira do primeiro espelho, não estranhes que o rosto revelado te seja estranho. É sinal que de ti renasceu outro. Até o lugar a que pertences é um lugar diferente.

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