11.4.12

Fait accompli


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Não. Não pertenças às tergiversações. Toma o leme entre as mãos e arremete contra as tempestuosas águas que se esmagam na proa. Pode a chuva não dar tréguas, ou o vento não querer amainar. O navio adorna enquanto a tempestade faz o seu caminho e tu não podes nada para a aplacar. Que não te invada o pensamento a palavra “capitular”. Arregaça as mangas, não importa a sinistra borrasca que escurece ainda mais a noite. Não te intimidas com pouco, por mais que o pouco seja um sobressalto para os demais.
As ondas vomitam a sua fúria, fazem par com a trovoada medonha que entretanto se pôs. A bússola marca o trajeto. Tens o saber da experiência de muitos temporais vencidos. Não desistes diante deste, ainda que por instantes te assalte a dúvida se este não é o mais monstruoso de todas. Assoberbado, os braços e os olhos não chegando para dobrar as adversidades, nem dás pano às dúvidas que de outro modo prendiam a atenção.
Num intervalo da tempestade, talvez o olho do furacão que anuncia uma ilusória estiagem, pões as contas em dia. Segredas ao adjunto que não tens memória, em tantos anos de lides, de uma violenta procela como esta. Nos instantes de acalmia (teria sido uma mão cheia de minutos, ou algumas dezenas deles?), entrou no pensamento a reminiscência de um pesadelo antigo. Também te debatias com a altercação do mar, que se agigantava na tua direção. Depois só te lembravas de acordar imerso em suor, julgando que o suor era a salgada água que te abraçava enquanto mergulhavas no abismo do oceano.
Afinal tinham passado horas, terríveis horas. Estivera por um fio, por vezes o navio adornando em desafio às leis da gravidade. Tinhas uma vaga lembrança: quando o céu começou a alvejar e os ventos foram soprar, irados, para outros quadrantes, metade da tripulação ajoelhava-se em preces e a outra metade, reverencialmente, distribuía agradecimentos à tua destreza. O navio franqueava as águas já sossegadas do porto. E tu juraste – e desta vez era de vez – que não voltavas a entregar o corpo ao mar. As rugas pronunciadas eram o apelo da reforma justa.

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