27.3.12

“Just give them a whisky”


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O ruído de fundo. Um ramerrão desaustinado como se fosse tareia no juízo. Protestam, as suas vozes roucas, hormonais, ecoando até à lonjura dos alicerces ósseos. Move-os a, dir-se-ia, infinita paciência. Não têm sono, trespassando a noite até dela já sobrar a claridade que apregoa a alvorada. Os loucos noturnos, desapossados do sono, não contam as horas enquanto a noite foge para a dissolução. Só se apagam quando a luz clara da manhã despoja a noite do seu império, quando as luzes dos candeeiros se apagam em sua inutilidade efémera.
A insanidade é decretada pelos enfastiados que protestam contra o sono arrombado pela algazarra. Vêm à janela e vociferam, pedindo que os foliões desatem os nós da comiseração que nidifica algures no sangue turvado pelo álcool. Os foliões, incomodados pela vozearia que vem de andares superiores, espreitam com desdém entre a penumbra que os olhos embaciados consentem. Uns depressa devolvem o olhar ao piso térreo onde, debitam as bebidas que acompanham os acordes disformes de uma não melodia embatucada. Outros zombam dos vizinhos que queriam o sossego que deixasse o sono aterrar.
Na descompensação dos interesses, subiram aos insultos que já voejavam de cima para baixo e vice versa. A mulher gorda baixou os braços e subiu uma perna, os primeiros ao encontro dos segundos, e descalçou o chinelo roto que, ato contínuo, ganhou asas na direção da turba ruidosa. Uma rapariga que se enamorava de um diletante sentiu o catingoso chinelo esbarrar no rosto que ficou empolado com o rubor da fricção. Uma rapaz nas imediações ajuramentou vingança e, na hora, lançou o copo ainda meio cheio com uma mistela qualquer, fazendo da velha gorda ponto de mira. Não haveria de acertar, que o estado etilizado não caucionava equilíbrio qualquer.
O consorte da velha ofendida pediu gentilmente o chinelo perdido. Devolveram-lhe um paralelepípedo que falhou o alvo por centímetros. O velho deixou-se de mesuras, saiu disparado para a cozinha de onde trouxe uma bacia onde estava em dessalga um bacalhau inteiro. A água fétida foi aguaceiro aspergido sobre a turba barulhenta. E nem o cheiro imundo do bacalhau a demolhar há quatro dias usurpou a folgança. De cá de baixo, um jovem nada entediado com uma lasca de bacalhau que viera junto com a água da demolha, berrou: “da próxima vez, atira whisky!

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