9.2.12

Vai ser beato para o raio que te parta

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Urge por isso defender a democracia, e era essa que devia ser a prioridade (absoluta) não só para as esquerdas mas também para todos os democratas genuínos. André Freire, in Público de 08.02.12, p. 29.
Tenho uma relação conflituosa com os beatos. Os de sacristia (manda o agnosticismo) e os outros, os que se acham descomplexados. Os achaques causados por estes acabam por morder a paciência. É que os beatos de sotaina não escondem ao que veem. Os outros, os que trazem sotaina mental escondida debaixo dos andrajos, disfarçam. Lido mal com farsantes.
A frase que serve de mote é todo um programa de moralismo bafiento. Primeiro, devido à sobranceria intelectual que me faria não acotiar os mesmos lugares ainda que houvesse identidade de ideias com estes moralistas. Isto do mundo ser binário, muito “certo” versus “errado”, é de uma infantilidade desarmante. Segundo, o monolitismo vindo de quem apregoa trautear a melodia da tolerância e da flexibilidade é um contrassenso desanimador (para que se oferece ao papel de sacerdote deste moralismo modista). O que aprendemos? Que o “bem” está de um lado (“as esquerdas”, pois que os que delas dissidem devem ser pessoas pouco recomendáveis). A páginas tantas, só apetece meter a racionalidade no saco e conviver com gente pouco recomendável.
Mas o pior está no rótulo “democrata genuíno”. Admito que enfiei o barrete. Não é voluntário; a crer no raciocínio asceta vertido nas páginas do jornal, só somos gente decente se defendermos que os direitos sociais são sagrados e, por isso, adquiridos. Quem os contestar, ou for condescendente com a sua hipoteca temporária, perde a linhagem de “democrata genuíno”. É quando apetece esbofetear estes meirinhos de uma moralidade andrajosa com teorias que lhes são simpáticas. O relativismo ensina a prescindir das categorias absolutas. Vamos ler outra vez as palavras parafraseadas: ele é a “prioridade absoluta” (com o requinte do adjetivo merecer destaque de parêntesis), ele é a figura dos “democratas genuínos” (a quem é concedido crédito apesar de não terem o bom gosto de serem das “esquerdas”).
Mas como somos senhores do nosso nariz e, em nome da probidade mental e do bom nome que a cada um assiste, devemos encomendar estes beatos àquela parte malcheirosa com o seguinte recado: que se olhem ao espelho antes de avaliarem as credenciais democráticas dos outros. Quem se julgam para lavrarem sentenças sobre quem é ou deixa de ser “democrata genuíno”?

1 comentário:

Ondas disse...

A-d-o-r-e-i -:)