17.11.11

Mostra-me o tempo


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Encerra as páginas amarelecidas do pesado álbum onde se resguardam as projeções dos anos idos. Olha em frente; não de soslaio, fixa o olhar no alquebrado horizonte que se espraia diante dos olhos. Que as alcavalas do pretérito só têm uma serventia: deixam os olhos marejados, inutilmente marejados. A combustão dos sentidos proclama a inocência do tempo vindouro. Como pode o que ainda vive adormecido nos sonhos aguentar com as culpas do tempo pretérito?
Mostra-me o tempo. O tempo que interessa, as almofadas onde se acasalam os ponteiros do relógio que marca a cadência das eras. Por mais voltas que dês, as juras de alteridade esbarram na saudade. Mas a saudade é um inanimado estado que simula as reentrâncias de outrora, como se elas fossem repetíveis, como se as águas não fossem inertes lodosos. E, no entanto, as ilusões desfazem-se como vento enclausurado entre as mãos. A reprodução dos fulgores, representação do tempo pretérito, embota-se nas represas dos dias reverenciados. A iteração do tempo julgado é como as sentenças abraçadas ao jugo definitivo.
Os solavancos do caminho são árdua tarefa. Muitos desistem ao primeiro ensaio. Enjoam-se com o promissor, ou não tanto, porvir encerrado nas catacumbas do tempo em véspera de ser tempo maior. A capitulação agiliza a cedência do pensamento. Em metendo-se o corpo e o pensamento nas alavancas do desejo, os solavancos são um formigueiro sem importância. Nas janelas, o gelo noturno funde-se. Nos campos, as verduras estão decapadas pelo gelo tão frio. As rosáceas evocam camponeses arrimando à grande urbe. Ensaia-se a revolução ambicionada pelos perenes descontentes. Eles olham os relógios passados por propedêutica carburação. Não se perdoariam se a admissão dos retardatários arrefecesse o imperativo do porvir.
E nisto mostras-me o relógio depois de te pedir explicações sobre as variações do tempo. Reparo no ponteiro dos segundos, no compassado estertor do ruído onde existe a advertência do porvir. O futuro é um tempo gasto. Os pretéritos e os porvires curvam-se perante a mesma atadura. São o tempo decantando-se em sua inutilidade. Os vivas de entusiasmo, que se guardem para os hojes que se dissipam. 

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