7.10.11

Saída de emergência


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Em jeito de manual de instruções.
As pulsações cardíacas são tão apertadas que a respiração sai ofegante. É como se o coração acelerado mordesse a traqueia, encharcando-te de ansiedade. Os minutos ora se enquistam na inércia, ora se consomem de supetão. As mãos trémulas não seguram a chávena do café, vertendo gotas sobre o papel branco. Interpelado por uma amiga, respondes maquinalmente com a distância de quem está mergulhado nas perplexidades que te colocam ao longe, muito ao longe.
As angústias desfilam diante dos olhos. Marejas na sua espuma, embebes-te nelas. Num ápice, transformas as angústias ao início menores em Adamastores que furtam o sono. O pensamento interioriza os embaraços que apertam as veias contra a carne. De resto, o próprio pensamento ficou ofuscado por uma cortina que se adensa, uma cortina de nevoeiros que se deita sobre o pensamento em camadas sucessivamente mais espessas. À força de tanto elucubrar, é como se os teus pés perdessem o contacto com a terra.
Sobra-te, ao menos, sapiência para um plano de contingência. O estado de emergência dita a sua necessidade. Não aguentas mais tempo com a espada da ansiedade deitada sobre o dorso. Não suportas os mil e um cenários, todos hipotéticos, que se congeminam quando o pensamento se revolve em enfurecidos remoinhos. O coração debita golfadas de sangue a uma velocidade voraz e as veias continuam muito apertadas contra a carne doída; a imensa dor da agonia, sabes que não a aguentas por mais um dia.
Estas dores não se resolvem sozinhas. Se são de emergência os dias que se puseram, parte em demanda de uma saída de emergência. Atalha os ossos partidos, sacode o restolho dos dias sem a metódica arrumação dos detritos. De repente, uma interrogação desponta entre os escombros em que te arrastas: as perplexidades todas, as angústias que vociferam dores contra a impassível existência, não serão apenas um palco montado e os atores em redor fantasmas em forma de gente?
Uma luminosa interrogação. Que franqueia a saída de emergência.

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