9.8.11

Pontas soltas


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As horas no relógio parecem paredes de gelo imóveis nos contrafortes da temperatura glacial. Da temperatura que, todavia, o não é, da temperatura que por estes dias se promete nos antípodas das aragens árcticas. Os ponteiros que alinhavam os segundos demoram-se em compassada monotonia. Há dias impassíveis, o céu cansativamente azul e a luz do sol que mais parece um forno em acutilante função. Entre o nada que se faz e o nada que se roga fazer estão compreendidos os passos ausentes, a multidão diletante que vagueia na suave indolência estival e que entra, intrusa, na acalmia do olhar.
Os pássaros refugiam-se, não vá a tarde soalheira trazer a desidratação que já não deixava as asas baterem os seus voos. Nem a sombra das árvores aplaca a temperatura que trepa no mercúrio. As tardes estão despidas do canto dos pássaros. Eles estão assoberbados com a sua estival hibernação até o sol se depor atrás da linha do horizonte onde se funde com o mar. Só não há silêncio porque há pessoas que passam, deixando atrás de si uma pegada sonora – crianças birrentas em choro convulsivo porque não foi atendido o pedido de um brinde; o casal de emigrantes em França que ora maltrata a língua nativa, ora se atamanca na superioridade de achar que trata por tu o francês (enquanto passeiam duvidosa estética); os surfistas que se deitam na água plácida do mar, imaginando as suas ondas e as façanhas (as só imaginárias façanhas) encavalitadas em ondas também elas extraídas à infértil imaginação; uma mota potente que persegue uma correria desaustinada a caminho de um algures só conhecido do motociclista empunhando um capacete escuro.
Os olhos, tal como as horas que se parecem atrasar na sua mesmice, demoram-se nestes dispersos. Fragmentos soltos apanhados num bouquet de nada. Enquanto o sol não decai sobre o horizonte e o céu se molda à luz crepuscular que prolonga a anestesia destes dias.
O dolce fare niente é um cansaço inteiro.

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